Os dinossauros sempre exerceram um grande fascínio sobre crianças e adultos, seja nas telas do cinema ou em páginas de revista. Mas esses animais gigantes, extintos há 65 milhões de anos, não poderiam ser vistos, tal como eram, sem o trabalho de um profissional ainda pouco conhecido no Brasil. A partir de fósseis e informações científicas, fornecidas por um paleontólogo, o paleoartista dá vida não somente à fauna pré-histórica, mas também ao ambiente dessa era distante.
“É difícil dissociar a paleontologia da paleoarte. Uma não sobrevive sem a outra”, acredita o paleontólogo paulista André Piacentini, que se considera um paleoartista amador. Ele explica que, como a paleontologia é uma ciência conceitual, seria pouco atrativa sem os desenhos e esculturas. “Já imaginou uma hora e meia de palestra sobre fósseis sem uma imagem para ilustrar? Seria maçante. Uma ilustração vale por mais de 100 páginas escritas.” Por outro lado, os desenhos sem as informações científicas acabam incorrendo em erro, juntando animais de períodos diferentes, como ocorre comumente em filmes e animações.
André conta que antes de se mudar para o Rio de Janeiro, em 2007, desenhava dinossauros sem compromisso científico. Mas aí, já mestre em paleontologia, foi fazer um estágio no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e conheceu o artista plástico Maurílio Oliveira, que ele considera o maior paleoartista do País. “Maurílio me ensinou a técnica da arte gráfica”, conta. Em seu trabalho mais recente, André reconstruiu, em desenho, o hippidion (espécie de cavalo pré-histórico) e seu paleoambiente para ilustrar a revista científica Acta Palaeontologica Polonica. Apesar de amador, ele venceu um concurso, na categoria revelação, realizado no 2º Congresso Internacional de Arte Paleontológica, promovido pelo Museu Nacional em 2009.
O mestre de André, Maurílio Oliveira, tem no currículo a recriação do dinossauro Santanaraptor placidus, único da espécie, descoberto em Santana do Cariri (CE), em 1996. Maurílio reconstruiu o esqueleto e reproduziu o animal como seria em vida. Uma réplica está em exposição no Museu de Santana do Cariri. “O Santanaraptor foi uma fronteira vencida. Nunca tinha feito nada assim antes. A partir daí, senti-me seguro para avançar na paleoarte”, lembra.
Pioneiro na atividade no Brasil, Maurílio começou ilustrando livros. Em 1999, foi convidado pelo renomado paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional (RJ), para produzir painéis que seriam colocados em exposição. “Tive contato com outros pesquisadores e descobri que havia como aliar arte com conhecimento científico”, disse.