O menino do dedo verde existe. Ele se chama Nélio Fonseca e começou a plantar árvores quando tinha apenas 8 anos de idade, fascinado pelas fruteiras que via no quintal de casa. Hoje, aos 25, o jovem empresário e professor que tão bem encarna o personagem do livro de Maurice Druon já atingiu a marca de quase 20 mil mudas plantadas. Todas, árvores nativas da mata atlântica. Além de deixar o Recife e cercanias mais verdes, Nélio quer colaborar para a sobrevivência de um dos biomas mais ameaçados do planeta.
“Planto desde criança, por influência dos meus pais. Mas a primeira atividade coletiva foi no colégio, quando eu tinha 16 anos. Mobilizei um grupo de representantes de sala e plantamos árvores lá mesmo”, conta, lembrando que conseguiu cem mudas de pau-brasil com a sementeira da Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE). “De lá para cá não parei mais.”
A paixão por árvores é tanta que nem no lançamento do seu primeiro livro, aos 17 anos, Nélio esqueceu delas. “Distribuí mais 500 mudas de espécies nativas da mata atlântica na Academia Pernambucana de Letras”, lembra. Na ocasião, conta que teve o privilégio de conhecer a obra do geógrafo Josué de Castro, feroz combatente da fome no Brasil. “Isso sacramentou minha paixão pelo meio ambiente.”
Em 2010, quando alcançou a marca de 10 mil árvores plantadas (com o apoio das sementeiras da Prefeitura do Recife e da UFRPE), Nélio ganhou o Prêmio Vasconcelos Sobrinho, conferido pela Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH). Três anos anos antes, já tinha recebido uma homenagem da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. “Fui apelidado de ‘o menino do dedo verde’ naquela ocasião”, relembra, sorrindo.
Apesar de se dividir entre a empresa, sala de aula e Secretaria de Cultura do Recife – onde é responsável pela compensação ambiental dos eventos do órgão – Nélio ainda encontra tempo para plantar. “Distribuo mudas em faculdades, colégios, ONGs e até em igrejas”, diz. “Tem dias que, da sala da minha casa até a varanda, só tem árvores”, revela, mostrando o banco do passageiro do carro totalmente ocupado por grandes e belas mudas. “Ao contrário dos animais silvestres, que nós não devemos ter em casa, quanto mais árvores da mata atlântica você tiver, melhor. Daí teremos matrizes para tirar sementes e fazer mudinhas”, ensina.
Além das sementeiras da UFRPE e da PCR, Nélio conta com a da família, em Abreu e Lima, no Grande Recife, para manter sua vocação de transformar tudo o que toca em verde. “As pessoas estão perdendo o costume de plantar nas calçadas e quintais”, lamenta. “Não é porque alguém mora em prédio que só deve ter grama e lajotas.” Quando doa uma muda a alguém, ele faz questão de monitorar se ela terá a destinação correta. “Ligo para a pessoa e pergunto se já plantou. Peço até para me enviar fotos”, garante. “Plantar acalma, nos deixa em paz com nós mesmos e o planeta. Saber que a gente faz parte do todo é magnífico.”