Uma vez por semana, um grupo de mulheres de Santana, bairro da Zona Norte do Recife, se reúne para discutir o que fazer com os inúmeros e diversos materiais recicláveis que recebem de parentes, colegas de trabalhos e vizinhos. Na Escola Espaço Livre, elas transformam filtros de papel em revestimento de mesa, discos de vinil em porta-trecos e até escamas de peixes em belos arranjos de flores.
“A gente gosta do lixo”, comenta Adalva Sobral, 64 anos. Desde que se aposentou, há 17 anos, a assistente social passou a se dedicar ao artesanato de reaproveitamento. Na escola, vale a máxima do químico Lavoisier: nada se perde, tudo se transforma. “Às vezes, a gente passa dias com o material parado sem saber o que fazer. De repente, surge uma nova ideia e um produto bem original”, conta.
A vocação de Adalva para a reciclagem começou em casa, observando a avó. “Ela juntava coisas para reaproveitar depois”, lembra. Mas a artesã só pôs as mãos na massa quando foi trabalhar num hospital. “Ficava incomodada vendo aqueles pacientes psiquiátricos dormindo o dia todo, sem fazer nada.” Com a equipe, começou a promover oficinas para mantê-los ocupados e debutou no campo da reciclagem. Depois da aposentadoria, passou a fazer o mesmo trabalho na comunidade.
Como a vizinhança já conhece a atividade das mulheres, todos cooperam levando resíduos para a Escola Espaço Livre, propriedade da família de Adalva que funciona como oficina. As mulheres de Santana trabalham com papelão, disco de vinil, caixa de leite, filtro de café, vidro, sobras de PVC, jornais, revistas e caixotes de madeira. E produzem vasos de papel, colares coloridos e até flores delicadas, criadas com caixas de maçã.
No momento, o grupo está ansioso pela primeira feira de artesanato do Parque Santana, que será realizada no dia 13 de junho pela Prefeitura do Recife. Vão colocar todas as peças à venda. “Quando você desperta para a questão ambiental, começa a ver o lixo com outro olhar. Além de gerar renda, ele tem um grande valor terapêutico. Produzir é uma delícia”, conclui Adalva.