A Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima será realizada em Paris, este ano. Para evitar que a COP 21 se resuma a uma carta de intenções sem efeitos práticos, como já ocorreu em outras edições, os franceses estão organizando uma série de encontros com representantes dos 195 países envolvidos, na tentativa de estabelecer as linhas de um acordo antes do evento, em dezembro. O conselheiro em comunicação do embaixador da França no Brasil, Thibaut Lespagnol, esteve no Recife para divulgar o evento. A capital vai apresentar novos estudos sobre sustentabilidade e poluição.
“Não dá para iniciar as negociações durante a conferência, pois não é possível fechar acordo sobre redução de gases que causam efeito estufa com 150 chefes de Estado em torno de uma mesa”, defende Thibaut Lespagnol, informando que a França não está dialogando apenas com países ricos e europeus, mas com africanos e os “Brics” (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China).
A estratégia é fazer uma sessão de discussão por mês com até 40 países. Os organizadores também vão promover um evento em julho com lideranças regionais e indivíduos comprometidos com o meio ambiente, que possam conscientizar suas comunidades. “Pessoas que tenham uma filosofia ou crença e diálogo com o povo. Não queremos lidar apenas com políticos e diplomatas”, afirma.
Participante da Conferência de Lima (Peru) no ano passado, a secretária de Meio Ambiente do Recife, Cida Pedrosa, ficou animada com a posição dos franceses. “A conferência tem que ser descentralizada. Quando as cidades não são incluídas nas discussões, não se consegue arrancar um compromisso dos governos locais com a redução dos gases”, endossa, argumentando que são as prefeituras que devem tomar medidas como construir mais ciclovias para tirar os carros das ruas.
Segundo Cida Pedrosa, o Recife já está fazendo o dever de casa. Há um estudo em andamento, feito em parceria com a Universidades de Leeds, Inglaterra, que vai apontar como a cidade deve se conduzir para se tornar sustentável, especialmente no quesito uso do solo. “Essa será a contribuição da Secretaria de Meio Ambiente para o Plano Diretor do Recife”, revela.
Na COP 21, a secretária pretende apresentar o Inventário de Carbono do Recife revisado e os resultados de uma pesquisa pioneira, realizada pelo Laboratoire des Sciences du Climat & de L’Environnement (LSCE), da França, que está medindo, em tempo real, o volume de gás carbônico lançado no ar. As estações estão funcionando no Parque Dona Lindu, Boa Viagem, e no Lafepe, em Dois Irmãos.
Até 1º de outubro cada país terá que anunciar seu compromisso de redução de gases até 2020 ou 2030. “Até agora, só 35 apresentaram proposta”, informa Thibaut Lespagnol. “Ainda teremos de saber se serão suficientes para o planeta ou se será preciso revisá-las.” Para ele, a questão do clima é inadiável. “Somos a última geração capaz de parar essas mudanças. A próxima só poderá se adaptar.”