Em novembro passado, o bispo de Afogados da Ingazeira (Sertão do Pajeú), dom Egídio Bisol, entregou uma carta assinada por várias entidades ao governador Paulo Câmara, denunciando o desmatamento de áreas de caatinga e a extração de areia em grande escala. A mesma denúncia já havia sido feita em abril, mas diferentemente do que prometeu o governador na ocasião, as medidas repressivas não foram tomadas. O resultado é que a região, castigada por uma seca severa há quatro anos, está devastada, com o que resta das árvores nativas sendo arrancado para a produção de lenha.
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“No último zoneamento que fizemos em conjunto com o governo do Estado, constatamos que quase todos os municípios do Sertão do Pajeú já perderam em torno de 75% de mata nativa”, alerta o pároco de Ingazeira, Luiz Marques, mais conhecido como padre Luizinho, que integra o Grupo Fé e Política dom Francisco, encabeçado pelo bispo dom Egídio. O padre alerta que o principal corpo hídrico da região, o Rio Pajeú, caminha para a extinção. “O rio praticamente não existe mais. As ingazeiras, que outrora ocupavam as margens, estão se acabando. Sem mata ciliar, não há água.”
Se não bastasse, o rio agonizante também recebe esgoto sem tratamento e suas margens viraram depósito de lixo, segundo a carta-denúncia. As construções irregulares, invadindo áreas de riachos, resultaram na contaminação de reservatórios que abastecem a região, como os Açudes de Serrinha e Jazigo, em Serra Talhada.
O grupo também alerta que, semanalmente, pelo menos 150 caminhões transportam lenha nas rodovias que cortam a região, sem qualquer controle ou fiscalização de órgãos ambientais. As entidades denunciam ainda que a extração irregular de minerais (areia e saibro) está causando forte impacto na vida de pequenos agricultores da região e provocando o ressecamento dos aquíferos.
No documento entregue ao governador, as entidades também reclamam da falta de estrutura da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) para combater o desmatamento. Segundo Padre Luizinho, a CPRH fez algumas operações na região nos últimos nove meses e chegou a apreender caminhões com lenha e destruir fornos usados na fabricação de lenha, mas não é suficiente. “Sabemos que há apenas quatro fiscais para todo o Estado”, reclamou o padre Luizinho, sugerindo que o governo lance mão da Polícia Militar. “Se o Estado não se fizer presente, não haverá como impedir essas agressões ao meio ambiente.”