PALEONTOLOGIA

Brasileiros em busca de fósseis na Antártica

Grupo de pesquisadores, que inclui uma paleontóloga da UFPE, pretende encontrar elementos para reconstruir o paleoambiente no período cretáceo e analisar as mudanças climáticas ocorridas ao longo dos milênios

Claudia Parente
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Publicado em 20/12/2015 às 7:29
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Grupo de pesquisadores, que inclui uma paleontóloga da UFPE, pretende encontrar elementos para reconstruir o paleoambiente no período cretáceo e analisar as mudanças climáticas ocorridas ao longo dos milênios - FOTO: Divulgação
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No dia 2 de janeiro, o navio Ary Rongel, da Marinha do Brasil, parte em direção à Antártica, levando consigo sete pesquisadores que vão fazer coleta de fósseis de vertebrados do período Cretáceo (de 135 milhões a 65 milhões de anos atrás) na longínqua Ilha James Ross. A finalidade do grupo é reconstruir o paleoambiente e as relações biogeográficas das espécies numa era em que a América do Sul, África, Antártica e Austrália formavam um supercontinente chamado Gondwana. Com essas informações, será possível analisar as mudanças climáticas ocorridas ao longo de milhares de anos e fazer uma projeção para o futuro.

Única representante de uma universidade nordestina na Operantar – expedição bancada pelo Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) –, a paleontóloga Julyana Sayão, da Universidade Federal de Pernambuco, avalia a oportunidade como singular. “Há quase dez anos nenhum pesquisador brasileiro conseguia chegar nessa ilha porque o canal estava bloqueado e o Brasil não tem navio quebra-gelo”, conta, acrescentando que a intensificação do fenômeno El Niño (causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico) ajudou a derreter o gelo. “Todos os dados que dispomos desse lugar são de 2006.”

Especialista em arcossauros fósseis, Juliana quer entender como os organismos estavam distribuídos no planeta, levando em conta os aspectos evolutivos, e o local onde se encontravam quando houve a separação do continente. “Eles saíram de onde e foram para onde? Com base nos fósseis de animais e plantas, entenderemos como era o ambiente naquele momento”, esclarece a paleontóloga. “Quando houve a ruptura, muitos organismos ficaram isolados nessa massa continental (Antártica) e acabaram gerando novas espécies.”

Ela explica que a ilha James Ross é o lugar ideal para pesquisar os processos que geraram a biodiversidade atual das espécies e as mudanças climáticas porque continua intocada. “Ela mantém as mesmas características do período Cretáceo”, afirma.

Embora seja a primeira vez que a paleontóloga vai pisar no continente gelado, em 2011 ela colaborou na descrição do fóssil mais antigo de plesiossauro, encontrado na Antártica. O animal era um lagarto marinho gigante, de pescoço comprido e nadadeira, que foi extinto com os dinossauros. “Ele inspirou a lenda do mostro do Lago Ness, na Escócia”, lembra Juliana. O grupo vai ficar isolado na ilha durante 45 dias. Nesse tempo, só poderão se comunicar com o mundo exterior através do navio. 

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