As imagens de chineses usando máscaras para não inalar o ar poluído de Pequim, na China, impressionaram o mundo na semana passada. No Recife, uma poluição quase invisível aos olhos também deve ser motivo de preocupação. As duas antenas de captação direta de gás carbônico na atmosfera, instaladas nos bairros de Boa Viagem e Dois Irmãos, em maio, indicaram que a poluição na cidade pelos gases que causam o efeito estufa está ultrapassando o limite considerado tolerável pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), entidade das Nações Unidas (ONU).
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Os primeiros resultados do projeto-piloto Carbocount City, resultado de uma parceria da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) e Laboratoire des Sciences du Climat & L’Environnement (LSCE), foram apresentados durante a Conferência do Clima (COP21), em Paris, este mês, por representantes das duas instituições. A antena instalada no Parque Dona Lindu, Boa Viagem, onde a brisa marinha ajuda a dissipar as impurezas do ar, indicou uma concentração de 400 ppm (partes por milhão) de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Segundo o IPCC, uma concentração acima de 400 ppm na atmosfera (esse limite foi alcançado pelo planeta em 2013) pode fazer a temperatura média da Terra subir entre 2 e 6 graus até o fim deste século. Na conferência em Paris, os 195 países participantes firmaram acordo, assegurando que o teto da elevação climática ficará abaixo de 2 graus.
Já a estação do Lafepe, em Dois Irmãos, registrou uma situação mais preocupante. Conforme relatório enviado pelo laboratório à CPRH, a antena captou picos de emissão de CO2 acima de 550 ppm. “Não significa que a área tem esse valor o tempo inteiro. É preciso usar ferramentas estatísticas para modelar os dados coletados”, explica a presidente da CPRH, Simone Souza, que apresentou os resultados do projeto em Paris. Ela lembrou que os dois equipamentos fizeram 40 milhões de medições (três por segundo) num período de cinco meses. “O resultado final da pesquisa será apresentado em março, quando técnicos do laboratório francês virão ao Recife”, adiantou.
Os equipamentos também registraram a concentração de metano (CH4) no ar, gás muito mais nocivo que o CO2 e geralmente relacionado aos resíduos domésticos nas áreas urbanas. Os resultados apresentaram alguns picos acima do estabelecido pelo IPCC para áreas limpas, em torno 1.8ppm.