ÍCONE

Lentes como parte do corpo

Tecnologia suíça de implante de lentes pode eliminar a dependência de óculos nos casos em que cirurgias a laser não são indicadas.

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Publicado em 29/04/2017 às 15:00
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Tecnologia suíça de implante de lentes pode eliminar a dependência de óculos nos casos em que cirurgias a laser não são indicadas. - FOTO: Ashlley Melo/JC360
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Antes de fazer uma cirurgia refrativa para corrigir miopia, hipermetropia ou astigmatismo, médico e paciente precisam debater o método cirúrgico mais indicado para cada caso. A tecnologia é considerada simples, segura, precisa e eficaz; mesmo assim, infelizmente, nem todo mundo é elegível para o procedimento a laser. Uma bateria de exames pré-operatórios pode revelar alterações oculares que inviabilizam a operação.

Pois bem: a cirurgia não era uma opção para o empresário e coach Alessandro Hidalgo, de 42 anos. Enquanto as técnicas a laser podem corrigir no máximo dez graus de miopia, ele tinha nada mais, nada menos do que 18. “Eu achava que não tinha mais solução. Nunca sequer conheci ou conversei com alguém que tivesse o grau mais alto que o meu”, conta ele, que começou a usar óculos aos cinco anos e, aos 16, já tinha 12 graus.

Atualmente, Alessandro não usa mais óculos nem lentes de contato graças ao implante de uma lente intraocular chamada ICL Visian, fabricada pela empresa suíça Staar Surgical – alternativa para os pacientes que não podem fazer a cirurgia a laser. O procedimento foi realizado pelo oftalmologista Álvaro Dantas, do Instituto de Cirurgia Ocular do Nordeste (Ícone), que fez a primeira operação deste tipo no estado, em 1999. Ele é um dos seis médicos certificados para fazer o implante em Pernambuco.

Na cirurgia, é feita uma pequena incisão na córnea, por onde um aparelho cirúrgico injeta a lente, feita de material maleável e biocompatível. O médico, então, a posiciona corretamente no lugar em poucos minutos. A ICL fica atrás da íris, a parte colorida do olho, e na frente do cristalino, nossa “lente natural”. O único pré-requisito para o paciente poder receber o implante é ter espaço adequado no olho.A ICL é uma indicação perfeita para todos aqueles casos em que a cirurgia laser não é uma boa opção ou é proibida. Geralmente é a grande esperança para pacientes que se consideram sem solução, que rodam de consultório em consultório”, detalha Álvaro Dantas. Ela corrige até 20 graus de miopia, seis de astigmatismo e 10 de hipermetropia.pós-operatório também é rápido. O paciente já sai da sala enxergando bem. Assim como nas cirurgias a laser, a melhora é gradativa, mas no dia seguinte já é possível levar uma vida normal. Não há risco de deslocamento interno da lente e, apesar de ser projetada para ser permanente, ela pode ser removida ou trocada, caso haja alguma indicação ou alteração de grau.

Para confeccionar a ICL Visian, os dados dos exames pré-operatórios do paciente são enviados para a Staar Surgical, que fabrica as peças sob medida com um material chamado collamer, de baixa espessura e alta transparência. Mais de 600 mil pessoas já receberam o implante ao redor do mundo.

Talvez agora seja a hora de perguntar: “e por que eu nunca ouvi falar nessa cirurgia antes?”.

“A ICL não é uma cirurgia muito comum porque a maioria dos pacientes têm graus corrigíveis com laser”, explica Álvaro. “Além disso, é uma cirurgia mais invasiva e feita somente por profissionais capacitados pela empresa fabricante.”

Para Alessandro, o resultado foi um “milagre”. “Eu usava lentes de contato porque, se eu fosse usar óculos, a lente seria muito grossa e extremamente desconfortável. Fora que, esteticamente, era horrível!”, brinca o empresário. Mas não é brincadeira o fato de que o problema de visão literalmente limitou suas escolhas na vida. “Deixei de seguir algumas carreiras. Por exemplo, meu sonho era entrar na Policia Militar. Passei na prova escrita, bem concorrida, mas não passei na prova prática. Não podia ser com óculos. Fora os sonhos de criança que você tem, como ser esportista, policial...”, lamenta.

Ele diz ainda que as lentes corretoras nunca foram capazes de corrigir toda sua miopia e seu astigmatismo, de modo que nunca enxergava as coisas com total nitidez. Álvaro Dantas corrobora. “Não existe visão boa através de um vidro grosso”, concorda o médico.

Depois do implante, Alessandro redescobriu algumas atividades. “Tem algumas coisas que eu nunca tinha feito, como mergulhar em uma piscina natural. Não tinha como mergulhar com lentes de contato. Fora a conveniência. São coisas simples, mesmo. Muda totalmente a vida”, finaliza.

Primeiro implante em PE

A primeira cirurgia de ICL Visian no estado foi realizada em 1999. A paciente era a professora Fabiana Romão, hoje com 42 anos. “Às vezes eu até esqueço que fiz!”, exclama, tamanho é o conforto.

Mesmo sem conhecer ninguém que tivesse feito a cirurgia, Fabiana disse que não teve medo. Ela tinha mais de dez graus e usava óculos desde os 15 anos, mas queria muito deixá-los de lado. “Não fiquei receosa, não. Primeiramente houve a confiança no médico. Depois, a vontade de voltar a enxergar era tanta, que eu resolvi encarar”, apostou.

Dezoito anos depois, ela ainda enxerga tudo nitidamente. “Fiz um exame de rotina recentemente e a visão permanece do mesmo jeito. Sem alteração”, comemora. “Eu recomendo muito. Faria de novo, se precisasse!”, conclui.

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