Repleto de fósseis e detritos datados de cerca de 66 milhões de anos atrás, foi inaugurado ontem o primeiro sítio geológico da América Latina com estrutura para visitas e atividades científicas. Nomeado K-PG Mina Poty, o espaço fica localizado na área de mineração da empresa Votorantim Cimentos, em Paulista, Região Metropolitana do Recife, e possui registros que evidenciam a queda de um meteoro na Península de Yucatán, no México que deu fim a era dos dinossauros. O episódio teria sido responsável pela extinção de aproximadamente 80% das espécies de seres vivos do planeta.
A área foi descoberta em 1993, durante pesquisas feitas pelos geólogos Paulo Martins e Gilberto Albertão, que na época estava fazendo mestrado. No local, foi comprovada a existência de grãos de vidro microscópicos e fragmentos de quartzo de impacto, que teriam sido produzidos no momento do choque do meteoro com a Terra. Depois disso, o espaço foi alvo de estudos do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e agora estará disponível para que outros estudantes e pesquisadores possam ter contato com o material.
“Essa área de mineração existe desde a década de 1940 e muitos trabalhos científicos foram feitos. O enfoque de associar com um evento importante da Terra foi na época do meu mestrado. Na época, um estudo feito mostrava que havia uma anomalia de irídio, elemento químico raro no planeta. Um físico fez um estudo e associou que a abundância desse elemento existia apenas em corpos como asteroides e meteoritos. Isso foi ligado a um possível impacto de um corpo de grandes dimensões com a terra. Logo em seguida, descobriram uma cratera no México datada do mesmo período da história”, explica Gilberto Albertão. Segundo ele, um dos efeitos desse impacto teria sido um tsunami. Detritos conhecidos como tsunamitos, formados pelo fenômeno, foram igualmente encontrados no geossítio pernambucano, no México, nos Estados Unidos e em Belize.
Os dinossauros viviam no período Cretáceo (K). Com as extinção de diversas formas de vida, após a queda do meteoro, teve início o período Paleógeno (PG). A divisão geológica entre essas duas fases são visivelmente notadas nos paredões de escavação do Geossítio K-PG. No solo, entre a solidificação de um período e outro, há uma faixa de detritos que teriam sido trazidos por uma tsunami.
Na época, de acordo com o doutor em geologia e professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins, a morte das formas de vida foi imediata por causa do impacto equivalente há diversas bombas. “A mortalidade imediata que foi produzida corresponde à centenas de bombas atômicas. A queda aconteceu parcialmente no continente e parcialmente na área oceânica. A propagação foi para a atmosfera, jogou o mar na atmosfera, jogou terra… Levantou tudo”, diz.
Para ele, a força da queda justifica a dificuldade de percepção de fósseis no local. “Eles estão muito escondidos, são microscópicos ou fragmentados”, conta. Apesar disso, no local foram encontrados fósseis de tartarugas, crocodilos e peixes que viveram na costa do nordeste no período seguinte ao meteoro, há 62 milhões de anos. Para que os visitantes possam ver os fósseis, os pesquisadores criaram painéis com imagem aproximadas por microscópios em até 200 mil vezes.
Área preservada
O sítio geológico tem aproximadamente 65 mil metros quadrados e se tornou área de preservação da Votorantim. O espaço está dividido em 4 exposições que poderão ser analisadas para fins educativos e científicos. “Tiramos a área do plano original de lavra e destinamos ao sítio. Há cerca de dois anos nós assinamos um termo de cooperação com a Universidade Federal de Pernambuco e o Ministério Público para que os pesquisadores pudessem ter acesso à área e fazer coletas. Entendemos a importância por ser uma área de interesse público e científico”, esclarece o geólogo e gerente de Direito Mineral da Votorantim, Rodrigo Sansonowski. A empresa ainda está avaliando a hipótese de que professores universitários treinem os colaboradores para orientar sobre o manuseio de possíveis fósseis que venham ser encontrados em áreas de mineração.
Inicialmente, as visitas estão destinadas a estudantes universitários e pesquisadores, mas existe a possibilidade de que o local passe a receber pessoas da comunidade e escolas. Os fósseis encontrados no local estão alocados na UFPE e dependem da disponibilidade de universidade para serem vistos. Para a vice-reitora da instituição, Florisbela Campos, este é uma grande oportunidade para os alunos. “O que estamos vendo parece ser simples, mas foi fruto de de um trabalho exaustivo. Essa parceria é muito importante para a UFPE e desejamos que muitos alunos e pessoas de todo o mundo venham visitar essa maravilha. Esse foi um empenho muito grande”, comenta.