Um trabalho que identificou as causas dos alagamentos no bairro de Jardim Brasil I, em Olinda, no Grande Recife, rendeu um prêmio a um grupo de estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Desembargador Renato Fonseca. Formado por quatro alunos, a equipe venceu a categoria Incentivo a Pesquisa, na feira Ciência Jovem, ocorrido no final de outubro. Com o resultado, os alunos garantiram participação na Feira Internacional de Ciências, que será realizada na cidade de Tampico, no México. Lá, eles apresentarão o trabalho e disputarão com mais 1.700 projetos do mundo inteiro.
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Instatisfeitos com a situação corriqueira na comunidade, os estudantes Luciano Gomes, Fagner Durack, Jeferson José, todos de 17 anos, e Joel Matheus, 15 anos iniciarem uma pesquisa ampla e detalhada para entender o que acontecia na região. O trabalho demorou cerca de dois anos para ser concluído e, além de estudar as possíveis causas, ofereceu alternativas para evitar a situação. O grupo teve acesso a mapas da década de 70, cedido pelo Exército, e compararam com um mapa atual. Eles investigaram as Lagoas Artol, Azul e Sementeira, localizadas no bairro.
Com a pesquisa, a equipe notou que as lagoas possuem um grande acúmulo de areia, detritos, terra, além de despejo irregular de esgoto e uma grande ocupação desordenada, o que provoca alagamentos no período de chuva. “As pessoas não têm ideia do mal que fazem a nossa comunidade jogando lixo nos rios e aterrando locais indevidos. O trabalho nos deu essa dimensão, nos permitiu entender o que acontece aqui desde o ano de 1974”, conta o aluno Fagner Durack. Ele também comentou que o trabalho de conscientização com as pessoas é muito importante. “Teve um dia que fomos andar na comunidade e entrevistar os moradores e registramos um senhor jogando lixo em um dos rios”, completa.
A partir da conclusão do estudo da pesquisa, os estudantes listaram uma série de sugestões que poderiam minimizar os transtornos causados pelas inundações na região. São eles: desobstrução dos 'pontos de estrangulamento'; trabalho da educação ambiental com a população; limpeza dos canais que interligam as lagoas estudadas; desassoreamento das lagoas; retirada semestral da vegetação e a construção de conjunto habitacional para a retirada das ocupações irregulares.
Os professores da disciplina de Geografia da escola, Ruy Parahyba e César Romero, destacaram a alegria de ter um trabalho reconhecido por toda uma equipe. “Perceber a capacidade desses jovens de colocar em prática o que é explicado na teoria, tornando possível que um trabalho de conscientização seja levado à comunidade, apesar de todas as dificuldades, é, sem dúvida, um privilégio. A educação tem que transpor os muros da escola”, ressaltou Ruy. Já César explicou que morou na comunidade durante 35 anos e não sabia a causa dos alagamentos. “Além de orientador no trabalho eu me tornei uma aluno, pesquisei com eles e aprendi o que, em 35 anos de moradia, eu não sabia. Foi surpreendente”, finalizou.
Os estudantes Luciano Gomes e Fagner Durack, junto ao professor Ruy Parahyba contam o que esperam dessa nova experiência. “É um misto de ansiedade e felicidade em poder representar a rede pública fora do país. É algo que nunca pensei que pudesse fazer”, explicou Luciano. Já Fagner não deixa a modéstia de lado. “Já nasci preparado. Eu já estudei Espanhol dentro do Programa Ganhe o Mundo, então tenho certo domínio do idioma. Agora preciso me empenhar em praticar mais e fazer bonito no México”, brincou.