EDUCAÇÃO

Ajuda para a Casa do Estudante de Pernambuco é bem-vinda

Residência atende 278 jovens carentes egressos do interior que vêm para Recife estudar

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 01/05/2016 às 6:00
Foto: Ricardo Labastier /  JC Imagem
Residência atende 278 jovens carentes egressos do interior que vêm para Recife estudar - FOTO: Foto: Ricardo Labastier / JC Imagem
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É como um coração de mãe. Acolhe, afaga, abriga. Na maioria das vezes recebe rapazes que se tornam homens nos corredores de cursinhos e universidades. Que aprendem a se virar sozinhos, quilômetros de distância da família, para concretizarem o sonho de ter um diploma. Perto de completar 85 anos, no próximo mês de agosto, a Casa do Estudante de Pernambuco (CEP), que funciona no bairro do Derby, área central do Recife, precisa de ajuda para continuar recebendo jovens como Ednaldo Alberto, 22 anos, e João Couto, 33, filhos de agricultores que em breve se tornarão advogado e médico, respectivamente.

Nascido na comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, que fica no município de Salgueiro (a 511 km do Recife), Ednaldo é cafuzo. Seu pai, falecido quando ele tinha cinco anos de idade, era negro. Sua mãe é da etnia indígena Aticum. Único de uma prole de quatro filhos a ingressar no ensino superior, Ednaldo encarou o desafio de vir para capital, que não conhecia, porque o desejo de ingressar no curso de direito era grande. Aluno do 9º período na Faculdade Maurício de Nassau (Uninassau) e bolsista do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), do governo federal, ele se forma no fim do ano.

“Foram quase dois anos vivendo na Casa do Estudante do Nordeste (também no Derby). Em meados de 2013 vim morar na CEP. Não teria condições de fazer faculdade se não tivesse o apoio desses lugares, que me fornecem moradia e alimentação. A vida batalhada é a que mais vale a pena. Passei por muitas dificuldades econômicas e emocionais”, diz Ednaldo, atualmente estagiário da Advocacia Geral da União. É com a bolsa mensal de R$ 495 que ele se vira para custear as despesas do curso.

João Couto, 33 anos, cearense da cidade de Jardim (distante 580 km de Recife), se valeu de muita perseverança para estar hoje no penúltimo período de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foram oito anos tentando vestibular e enfrentando as críticas de parentes e amigos, que em vez de encorajá-lo o chamavam de louco, pois “faculdade de medicina não era lugar para gente pobre como ele”, relembra. Quando saiu o resultado do vestibular da UFPE houve queima de fogos em Jardim.

Na CEP, João divide um dos 40 quartos com outros cinco rapazes vindos de Bodocó, Inajá, Chã Grande e Serrita. São três beliches e seis guarda-roupas. “Morar na Casa do Estudante requer muita paciência, tolerância, respeito. Mas viramos uma grande família”, destaca o futuro médico. O tão sonhado diploma chegará no final do ano.

MAIS VERBA - Presidente da CEP, Mário Rocha defende a destinação de mais recursos para a residência estudantil. “A CEP tem uma importância grande para a sociedade pernambucana. Daqui sai mão de obra qualificada e é preciso investir na casa. O governo reservou R$ 2,1 milhões para a CEP por um período de um ano (de julho do ano passado a junho deste ano). Dá para pagar alimentação e os funcionários, além dos encargos sociais. Mas temos outras despesas”, observa Mário. Houve um corte de R$ 500 mil comparado com o orçamento do ano anterior.

Outra fonte de recursos são as mensalidades (R$ 45 por pessoa) dos 150 residentes e 128 jovens que só vão lá para fazer as três refeições diárias. Há ainda o envio anual, por parte do Grande Recife Consórcio de Transporte, de cerca de R$ 400 mil referente ao arrecadado com as carteiras de estudantes.

Uma das dificuldades, explica Mário, é a incerteza sobre quando é feito o repasse do governo, dividido em quatro parcelas. “Já recebemos três vezes, totalizando R$ 1,7 milhão. Falta a última, prevista para 16 de maio”, conta o presidente da CEP, que teme não honrar o pagamento de algumas contas. “Adotamos medidas para reduzir o consumo de energia e readequamos contratos como o de manutenção de ar condicionado, de informática e do consultório odontológico”, destaca Mário.

“Precisamos consertar o elevador, quebrado há 10 anos. Temos que fazer revisão na parte elétrica. Queremos reformar o imóvel que ganhamos para montar uma residência feminina. Mas para tudo isso necessitamos de dinheiro que não temos. Empresas ou pessoas físicas que quiserem nos ajudar, estamos de portas abertas”, enfatiza Mário.

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