O professor Jeff Kened Barbosa de Melo, 63 anos, que será indenizado por uma ex-aluna, conta que adoeceu após o desentendimento com a adolescente e que resultou numa ação judicial movida por ele.
Em abril de 2016, a estudante, que tinha 17 anos e estava no 2º ano do ensino médio na Escola de Referencia em Ensino Médio (Erem) Apolônio Sales, localizada no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, não atendeu o pedido dele para mudar de banca, durante uma aula, depois de três solicitações para que parasse de conversar com os colegas.
Leia Também
O episódio ganhou dimensão porque a jovem e sua mãe acionaram Conselho Tutelar, Secretaria de Educação de Pernambuco e Ministério Público Estadual, alegando que a atitude do docente causou constrangimento a estudante.
O juiz Auziênio de Carvalho Cavalcanti determinou que a jovem e sua mãe paguem indenização de R$ 5 mil ao professor. Cabe recurso e a família da estudante já garantiu que vai recorrer.
Jeff, que leciona matemática e física na Erem Apolônio Sales há oito, diz que recebeu muito apoio dos colegas e estudantes da escola. Ele tem quase três décadas de magistério.
Veja a entrevista dele ao JC:
JORNAL DO COMMERCIO – Como aconteceu o incidente com a estudante?
JEFF KENED MELO – Estava dando aula no 2º ano, em abril de 2016. Essa aluna estava conversando muito e alto. Por três vezes solicitei que parasse de conversar, mas não atendeu. Na quarta vez, pedi que trocasse de lugar, mas ela não aceitou. Disse que tinha 18 anos e que nem a mãe dela mandava nela e que não iria me obedecer. Chamei a coordenação, que a tirou de sala. Continuei com a aula.
JC – E depois?
JEFF – No dia seguinte, a aluna veio para a escola com a mãe. Houve uma reunião delas comigo e a direção. Cheguei a pedir desculpa, falei para pararmos com aquele processo todo, mesmo sendo constrangedor, mas não aceitaram. Foram ao Conselho Tutelar. O conselheiro pesquisou sobre minha conduta e ficou a favor de mim. Elas procuraram mais três órgãos: a Gerência Regional de Educação, a Secretaria Estadual de Educação e o Ministério Público. Denunciaram uma suposta pressão psicológica que a jovem estaria sofrendo. Respondi a todos, fui investigado e não encontraram indícios de abuso por minha parte.
JC – Como o senhor ficou diante de tudo isso?
JEFF – Mexeu bastante comigo. Tive a pressão alterada, fui socorrido três vezes por colegas. Fiquei desestabilizado, com tremedeira, sem conseguir dormir e sem me alimentar direito.
JC – Por que decidiu colocar na Justiça?
JEFF – Nós professores somos mal remunerados, mal reconhecidos e achincalhados. Essa é uma resposta que nós professores estamos aqui, que queremos o melhor para o Brasil. Foi uma vitória da nossa classe. Esperei a conclusão de todos os procedimentos para só depois recorrer à Justiça.
JC – Qual foi o sentimento do senhor ao saber que ganhou a causa?
JEFF – Foi maravilhoso. Me senti realizado, de peito lavado. A aluna disse que sofreu pressão psicológica. Mas na verdade eu que sofri com tudo isso.
JC – Como é a relação aluno-professor, professor-aluno? É difícil?
JEFF – Muito difícil. A maioria dos alunos acha que só eles têm direito, que professor não tem direito nenhum, que somos empregados deles.
JC – O que o senhor aprendeu com tudo isso?
JEFF – Que a verdade existe. A educação, o magistério, apesar de tudo, são fantásticos. A educação é um legado para outras gerações. É ainda o caminho para melhorar o País. A vitória não é só minha, mas de todos os professores. Recebi ligações de vários Estados, de colegas de todo o Brasil me parabenizando e prestando solidariedade a mim.