A despeito dos baixos índices de aprendizagem no País e em Pernambuco, revelados a partir do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação (MEC) - somente 4,9% dos jovens pernambucanos concluem o ensino médio sabendo o conteúdo adequado de matemática e 23,3% de português - escolas públicas se esforçam para assegurar que os alunos, de fato, aprendam. Trabalho em equipe, participação da família, metodologias inovadoras, monitoramento dos resultados e professores dedicados são algumas das ações que contribuem para reverter o mau desempenho da educação brasileira.
Um exemplo é a Escola Municipal Lagoa Encantada, localizada na periferia recifense, no bairro do Ibura, Zona Sul da capital. Em uma década - de 2007 a 2017 - a unidade quase dobrou sua nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), instrumento que mede a qualidade da educação e que utiliza a nota do Saeb. Era 3,6 em 2007 e subiu para 6,7 em 2017, alcançando o melhor resultado dos anos iniciais do ensino fundamental na rede municipal de ensino, e ficando acima da média do município (5).
“Percebíamos que cada professor fazia seu trabalho sem conversar com o colega. Não havia coletividade. Mudamos a partir de 2014. O trabalho passou a ser discutido em equipe, todos se envolvem. Foi uma das ações que fez diferença no aprendizado dos alunos”, afirma a gestora da Lagoa Encantada, Sileide Gonçalves. A escola tem 188 estudantes da educação infantil ao 5º ano do fundamental.
No momento da entrada, os docentes notaram que havia muita agressividade entre as crianças. Começaram a colocar uma música, trocada a cada início de mês. Uma simples atitude que envolve a garotada e tira o foco das arengas. Turmas pequenas (a maior tem 28 alunos) e salas climatizadas também favorecem. O estímulo à leitura é outro diferencial da escola.
No projeto Ciranda Literária, cada aluno leva um livro pra casa na sexta-feira. Na segunda relata a história oralmente e desenhando ou escrevendo. “O desafio da alfabetização é grandioso. Quanto mais estimulado a ler, mesmo aquele que ainda não domina a leitura, mais aprende”, diz a professora Anunciada Santos, do 3º ano do fundamental. A cada bimestre, os pais participam de reuniões, por turma, para avaliarem o desempenho dos seus filhos.
"Adoro ler. Acho muito legal. Quero estudar para ser alguma coisa na vida. Gosto da escola e da professora”, diz Rakelly Vasco, 8 anos, aluna do 3º ano da Lagoa Encantada. Mês passado ela leu 10 livros e ganhou o título de rainha dos livros.
GINCANA
No Liceu de Artes e Ofícios, escola da rede estadual situada na Boa Vista, área central do Recife, a professora Rafaela Gatis encontrou, ano passado, uma maneira divertida de testar o aprendizado em matemática. Com o foco nas provas do Saeb, ela criou uma gincana para as turmas do 9º ano. “A pontuação é dada à equipe. Isso estimula que um aluno que sabe mais ajude o que aprendeu menos”, observa Rafaela. Os estudantes gostaram tanto que a iniciativa vai se repetir este ano com o 1º ano e envolvendo mais disciplinas.
O colégio tem 1.160 alunos dos 6º ano do fundamental ao 3º do ensino médio. As vagas são muito disputadas. A taxa de evasão é zero, enquanto a de aprovação é de 91% no fundamental e 86% no médio. “Contamos com ajuda de pais que são voluntários. Há um convênio com a Universidade Católica de Pernambuco. Temos psicóloga na equipe, profissional que não existe nas outras escolas estaduais. Nosso corpo docente é muito qualificado”, relata a gestora, Zélia Correia.
“Não existe aluno incapaz de aprender. Se ele for bem orientado, com estímulo e boas condições de ensino, vai conseguir. É desafiador porque na maioria das vezes as salas de aula são quentes, as turmas grandes, o tempo para planejamento é pouco e os salários, baixos. Mas nada disso é motivo para se acomodar. Estudo todos os dias para ser uma professora melhor para meus alunos”, diz Rafaela.
"Aprendemos mais quando o professor busca um jeito diferente de ensinar. Alguns infelizmente não fazem questão disso. A gincana de matemática, da professora Rafaela, é um bom exemplo”, conta Yanna Pessoa, 14, do 1º ano do Liceu.