Anunciada ontem pelo Ministério da Educação (MEC), a versão digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que deve começar a ser implementada em 2020, foi recebida com um misto de entusiasmo e preocupação por especialistas da área de educação e estudantes. O modelo começa a funcionar, em versão piloto, no próximo ano, com a abertura de 50 mil vagas, em 15 capitais (Recife entre elas). O objetivo é tornar o Enem 100% digital até 2026.
O Enem Digital já tem data: 11 e 18 de outubro de 2020. A versão tradicional será aplicada aos demais estudantes nos dias 1º e 8 de novembro. Assim, em 2020, o exame acontecerá em três datas: outubro, novembro e dezembro (reaplicação destinada a alunos prejudicados por algum problema no processo, em papel).
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Entre os argumentos do governo federal está a redução de custos. “Para uma única prova, são confeccionados 18 cadernos diferentes, com custo de R$ 500 milhões. Para quanto aumentariam os custos, além da complexidade, quando o Enem tiver que se adaptar aos itinerários formativos (caminhos escolhidos por alunos com foco em determinada área do conhecimento, previstos no Novo Ensino Médio) e tivermos que fazer cinco provas diferentes?”, questionou Alexandre Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), durante coletiva de imprensa, em Brasília.
O custo da aplicação do Enem digital em 2020, para 15 mil candidatos, será de R$ 20 milhões, uma média de R$ 400 por participante. O valor é superior aos atuais R$ 100 por aluno, segundo o MEC. Presidente do Inep alega que os custos diminuirão com a ampliação do exame digital.
A redução dos custos é apontada pelo coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos Pela Educação, Caio Sato, como uma das vantagens do novo sistema. “Existe uma possibilidade de redução de custo significativa, o que nos leva a um segundo ponto positivo: com a redução de gastos, o número de aplicações durante o ano aumentaria, dando uma segunda chance aos alunos.” Para ele, entre os benefícios ainda está um potencial aumento da segurança do exame a partir da aplicação por meio digital. “Pela logística, a distribuição precisa começar com antecedência. Com a versão digital, o tempo de sigilo aumentaria.”
A possibilidade de utilização de novos formatos também anima o especialista da Todos Pela Educação. “Podem ser utilizados gráficos interativos e vídeos, por exemplo. A estrutura do teste também poderia ser modificada, a exemplo de outras estruturas utilizadas em provas internacionais, como os chamados testes adaptativos (em que questões são colocadas de acordo com os acertos). São possibilidades que o digital abre”, defende.
De acordo com o MEC, alunos que optarem pela versão digital, realizarão a prova inteira nessa modalidade, incluindo a redação. “Se o aluno não for bom de digitação, se não tiver o costume de digitar, pode acabar sendo prejudicado?”, questiona a professora de redação do Colégio Santa Maria Ana Cristina Verdasca. Para ela, o País vive uma realidade difícil, principalmente em municípios do interior, onde não existem computadores ou sinal de internet. Além disso, segundo o ministério, o governo não comprará novos equipamentos. “Usaremos as bases já instaladas nas unidades de ensino”, disse o presidente do Inep.
SEGURANÇA
A questão que preocupa os estudantes é a segurança do exame. “O sistema pode ser hackeado ou apresentar problemas”, apontou Tiago Monteiro, 16 anos, estudante do 2º ano do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A turma dele será a primeira a realizar o Enem Digital, de acordo com a previsão do MEC. “Vou optar pelo modelo tradicional. Tenho medo que seja invalidado.”
De acordo com o ministro, fiscais estarão nos locais de prova. O presidente do Inep minimizou possíveis problemas de segurança, dizendo que “os ataques ao Enem já acontecem hoje.”