O movimento de alunos que buscam maior independência para gerir suas próprias agendas é uma tendência na educação. O cotidiano apressado das grandes cidades e a dificuldade de acesso ao ensino superior nos grotões do país, apontam especialistas, são um dos principais fios condutores deste fenômeno. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) estima que um em cada cinco alunos do ensino superior brasileiro seja adepto da Educação a Distância (EaD). E a expectativa é que esse número não pare de crescer. Em 2020, o país deve receber as primeiras turmas de mestrado e doutorado a distância.
Morador de São Lourenço da Mata, cidade da Região Metropolitana do Recife, Reginaldo Filho, 37 anos, encontrou na EaD a fórmula para concluir um curso superior de tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Ele já havia tentado uma graduação presencial em Ciência da Computação, na capital do Estado, mas a dificuldade de deslocamento o impediu de prosseguir. “Eu precisava de dois ônibus. Quando a aula acabava às 22h, eu chegava em casa às 23h30. Isso não estava fazendo bem para o meu rendimento, porque não conseguia estudar. Sempre quis mais que um diploma, eu queria o conhecimento adequado e completo. Então, achei melhor sair no segundo período”. A modalidade a distância permitiu flexibilidade de horário e acesso ao conteúdo via computador, em qualquer lugar. O custo reduzido também foi um atrativo. Formado desde 2016, Reginaldo acredita que a EaD lhe deu melhores oportunidades no mercado. “Sempre gostei de tecnologia e hoje, com a formação que tenho, consigo prestar serviço na área de desenvolvimento de sistemas, que é o que eu mais gosto de fazer”, afirma.
Para o conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), George Bento Catunda, a EaD oferece uma boa qualidade de ensino. “É um equívoco pensar qualidade a partir de uma modalidade. O que devemos observar é a instituição que oferece aquele ensino, até porque existem cursos presenciais que não são bons. Um curso a distância que tem docentes qualificados e uma infraestrutura virtual e presencial de qualidade é um curso confiável”, defende. O professor lembra que, toda instituição de ensino superior com EaD deve ter, obrigatoriamente, um pólo presencial (onde as provas devem ser realizadas), biblioteca e laboratório que se encaixem nas necessidades acadêmicas dos cursos oferecidos. “Para um curso de pedagogia é necessária uma brinquedoteca”, exemplifica. Ainda segundo o especialista, a formação em EaD garante que o estudante participe de qualquer processo seletivo para ingresso em atividades profissionais. “Uma pessoa não é desclassificada de um concurso público porque se formou em EaD, por exemplo. Pelo contrário. O importante não é onde você se forma, mas a qualidade do conhecimento que você tem”, analisa.
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Professores que estudam o método de ensino concordam que o aluno de EaD precisa ter bastante compromisso e disciplina. “Tem que saber gerenciar o tempo para criar uma rotina rigorosa de estudos. Existem prazos para entregar trabalhos, e eles precisam ser cumpridos, então é preciso organização. O ideal é ter um calendário e uma rotina de estudos”, orienta a gestora de EaD da Secretaria Estadual de Educação, Renata Otero. “Por outro lado, o estudante acaba desenvolvendo competências importantes para o mercado de trabalho, como a administração do tempo e a responsabilidade”, acrescenta.
O ensino a distância também foi a opção encontrada pela dona de casa Sebastiana Pereira, 59 anos. Por influência de um de seus filhos, ela buscou um curso técnico em Recursos Humanos. “Eu estava desempregada há muito tempo e meu filho me incentivou porque disse que iria ajudar no meu currículo. Apesar de ainda não ter conseguido um emprego na área, vejo que esse curso me fez muito bem. Eu aprendi muito. Entrei pequena e sai uma gigante”, afirma confiante, Sebastiana, que mora no Alto Dois Carneiros, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, e se formou este ano. Para acompanhar as aulas, a dona de casa utilizava o computador do próprio filho. Às terças-feiras, tinha aulas presenciais. “É como em todos os cursos, no que diz respeito à necessidade de empenho do aluno. O professor dá o conteúdo e você tem que se esforçar para estudar também”, diz ela, que foi oradora da turma na cerimônia de conclusão.
BENEFÍCIOS
Segundo Renata Otero, a EaD oferece diversos benefícios para os estudantes e para a sociedade. “A interiorização do conhecimento é marcante. Muitos estudantes moram no interior e não podem se mudar para a capital. Com o ensino a distância, nós melhoramos a mão de obra no interior, o que acaba trazendo bons resultados para a própria região de origem do aluno”, observa.
Além de graduação e pós-graduação, existem outros tipos de cursos a distância, como pré-vestibulares e preparatórios para concursos. Para conferir se uma instituição é credenciada, o estudante deve acessar o site www.abed.org.br.