EDUCAÇÃO

Expectativa na UFPE pela nomeação do novo reitor

Atual gestor, Anísio Brasileiro encerra mandato no próximo sábado (12). MEC promete divulgar nome do próximo reitor ainda esta semana

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 08/10/2019 às 8:13
Foto: Bernardo Sampaio/Ascom UFPE
Atual gestor, Anísio Brasileiro encerra mandato no próximo sábado (12). MEC promete divulgar nome do próximo reitor ainda esta semana - FOTO: Foto: Bernardo Sampaio/Ascom UFPE
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A partir de domingo (13), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) deixa de ser conduzida pelo engenheiro civil Anísio Brasileiro, há oito anos no cargo de reitor. O segundo mandato, iniciado em 2015, acaba sábado. A expectativa é de que o próximo reitor seja o professor Alfredo Gomes, mais votado pela comunidade universitária numa consulta acadêmica em dois turnos. Para assumir o comando de uma das maiores instituições públicas de ensino superior do País, Alfredo Gomes precisa que seu nome seja chancelado pela Presidência da República. O Ministério da Educação (MEC) informou nessa segunda-feira (07) que a nomeação do novo reitor - sem especificar quem será - deve sair até o fim desta semana.

A lista tríplice com os três nomes referendados pelo Conselho Universitário para a reitoria foi recebida pelo MEC há quase três meses. O órgão teve acesso ao resultado no dia 18 de julho, data em que a correspondência enviada pela UFPE chegou ao ministério. Além de Alfredo Gomes, diretor do Centro de Educação, fazem parte da lista os professores Ricardo Medeiros, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, e Sérgio Abranches, também do Centro de Educação.

Apesar de alunos, docentes e técnicos participarem da consulta para escolher o reitor, a nomeação, por lei, é prerrogativa do presidente do Brasil. No entendimento do governo federal, não existe hierarquia na lista tríplice. Mas o pedido da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior é de que seja respeitado o desejo da comunidade universitária, com a indicação do candidato que tem maior quantidade de votos.

Em pelo menos cinco universidades – UFGD, UFTM, Unirio, UFRB e UFC – o escolhido por Bolsonaro não foi o primeiro colocado da lista. No último dia 30, o Conselho Universitário da Universidade Federal da Fronteira Sul, de Santa Catarina, aprovou pedido de destituição do reitor Marcelo Recktenvald, nomeado pelo presidente e que era o terceiro da lista tríplice.

Nessa segunda-feira (07) o Grupo Docentes pela Liberdade ingressou com ação popular na Justiça Federal para derrubar a lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário que, segundo o grupo, mudou o Estatuto da UFPE para beneficiar Alfredo Gomes, e, consequentemente, cancelar o pleito.

AGENDA

Enquanto não deixa o comando da UFPE, Anísio Brasileiro segue intensa agenda. Ontem entregou cinco salas para atividades pedagógicas no Hospital das Clínicas. Nesta quarta-feira (09) inaugura o Cinema UFPE, nova sala de projeções no bloco B do Centro de Convenções do câmpus Recife. Quinta entrega o título de professor emérito ao ex-reitor Mozart Ramos.

Caso a nomeação do sucessor não seja publicada no Diário Oficial da União desta semana, a atual vice-reitora, Florisbela Campos, segue no comando da instituição. O mandato dela só termina dia 25. O vice da chapa de Alfredo Gomes é o professor Moacyr Araújo. Procurado para comentar sua possível nomeação, Alfredo Gomes preferiu não se pronunciar enquanto seu nome não for anunciado oficialmente.

Entrevista com Anísio Brasileiro

A UFPE faz parte da vida do reitor Anísio Brasileiro, 65 anos, há 46 anos: cinco como aluno e 41 como professor. Reitor desde 2011, em duas gestões, ele planeja voltar a dar aulas na graduação em 2020.

JC – O que o senhor destacaria nos seus oito anos de reitorado?
ANÍSIO BRASILEIRO – O grande marco foi o fortalecimento da relevância da UFPE, do ponto de vista da qualidade. Para os docentes, lançamos edital de alocação de recursos para manutenção dos laboratórios de pesquisa. Fortalecemos a educação a distância, oportunizando a centenas de jovens o acesso à formação de qualidade. Apoiamos, através de recursos, a publicação em periódicos de língua inglesa. Estabelecemos parcerias estratégicas com empresas públicas e privadas. Investimos na internacionalização, com a criação de 13 disciplinas internacionais. Também buscamos inovar nas metodologias de ensino e aprendizagem. Outro destaque foi a curricularização da extensão.

JC – O que mais?
ANÍSIO – Valorizamos os técnicos, com investimento na qualificação deles e na presença em postos-chave da universidade. Por exemplo, das oito pró-reitorias, quatro são ocupadas por técnicos. Adotamos um sistema informatizado. Hoje os processos circulam via plataforma adquirida na UFRN. Dá mais rapidez e economia de papel. Chamo a atenção também para a criação da Pró-reitoria de Tecnologia e Gestão da Informação.

JC – Que avaliação faz do ingresso do Hospital das Clínicas na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, assunto polêmico antes de o senhor assumir a primeira gestão?
ANÍSIO – Foi uma corajosa decisão nossa de mudar a gestão para Ebserh. Os resultados são extremamente positivos. Foi meu primeiro grande desafio como reitor. Hoje o HC é exemplo de qualidade e de atendimento ao público. O medo que havia da privatização não se concretizou.

JC – Na sua gestão as universidades federais passaram a ter 50% das vagas para egressos de escolas públicas. Que ações destaca na assistência estudantil?
ANÍSIO – Hoje a universidade é mais plural, respeita a diversidade, tem a cara do povo brasileiro e é essa universidade que deve ser defendida. Criamos a diretoria LGBT, investimos na educação indígena. Na assistência estudantil, implantamos o Restaurante Universitário em Caruaru. No Recife, construímos uma residência estudantil mista e recuperamos as casas feminina e masculina. Criamos a Pró-reitoria para Assuntos Estudantis. Queria ter inaugurado o segundo RU no Recife, no prédio da antiga Sudene. Até refizemos a coberta. Mas pegamos o bloqueio de verbas, em maio, por isso não houve liberação dos R$ 400 mil previstos para colocá-lo em funcionamento.

JC – O que o senhor queria ter feito e não conseguiu?
ANÍSIO – Deixo o projeto executivo do Centro de Convenções, no câmpus Recife, pronto. O prédio está fechado desde 2013. São R$ 40 milhões para reformar o teatro. Mas vamos entregar, esta semana, o cinema e o hall, com salas para seminários. Gostaria de ter organizado as calçadas no entorno do câmpus. Foram quatro anos de negociação com a associação de barraqueiros e a Prefeitura do Recife. Temos o projeto dos quiosques concluído. Mas a prefeitura não foi capaz de alocar recursos para os quiosques. Houve várias reuniões com Braga (João Braga, secretário municipal de Mobilidade e Controle Urbano), mas o projeto não avançou. Também não conseguimos implantar o câmpus da UFPE em Goiana porque o Ministério do Planejamento não liberou vagas para professores e técnicos.

JC – Qual será o maior ou os maiores desafios de quem o suceder?
ANÍSIO – Uma das minhas preocupações é a manutenção dos laboratórios de graduação e pós. Com a redução de recursos de capital e a perda de financiamento do CNPq e Finepe, corre-se um grande risco de sucateamento. O próximo reitor terá o desafio de manter a qualidade num cenário que projeta menos recursos. Precisará se articular mais com a sociedade, com as empresas e com o Parlamento. Lamento não ter investido mais nessa aproximação com a bancada pernambucana no Congresso Nacional.

JC – O senhor aposta na nomeação do professor Alfredo Gomes?
ANÍSIO – Sim, estou confiante. A escolha dele foi impecável. O Conselho Universitário o elegeu como primeiro da lista tríplice, dentro da mais absoluta legalidade, referendando o desejo da comunidade universitária.

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