O professor universitário e diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves, que chegou a ser cotado para o Ministério da Educação no governo Bolsonaro, afirmou, na manhã desta terça-feira (3), em entrevista à Rádio Jornal que, diante do resultado ruim do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018, o país precisa observar os exemplos dos estados de Pernambuco e do Ceará na educação.
"O Brasil precisa aprender com o Brasil. Os resultados de alfabetização no Ceará são fantásticos. Do mesmo jeito, Pernambuco tem um belo exemplo no campo do ensino médio com as escolas em tempo integral. Agora, é preciso continuar com esses projetos", falou Mozart Neves.
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Segundo o professor, o grande problema das políticas públicas no Brasil é a falta de continuidade. "O Brasil erra muito, pois tem um grave problema de descontinuidade nas políticas públicas que estão dando resultado e, ao mesmo tempo, não investe onde deveria investir, com base em evidências", disse.
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Novas escolas em tempo integral
A rede estadual de Pernambuco terá ensino integral em mais 25 escolas. A ampliação para o ano letivo de 2020 será anunciada pelo governador Paulo Câmara (PSB) na manhã desta terça-feira (3). Serão 14 integrais do Ensino Médio - incluindo uma Escola Técnica Estadual - nove integrais com dois turnos (Ensinos Fundamental e Médio) e duas integrais com dois turnos (Ensino Médio).
Hoje, o Estado conta com 412 escolas em tempo integral, a maior rede do País, sendo 368 Escolas de Referência em Ensino Médio (EREM) e 44 Escolas Técnicas Estaduais (ETE), que atendem mais de 198 mil estudantes.
Pisa 2018
Meninas têm melhor desempenho que meninos em leitura no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018. Elas obtiveram 30 pontos a mais na prova, o que equivale a quase um ano de estudos de diferença em relação aos meninos. Os resultados da avaliação, que é referência mundial, foram divulgados nesta terça-feira (3), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O resultado é a média dos países da OCDE, grupo formado por 37 países, entre eles, Canadá, Finlândia, Japão e Chile. No Brasil, não é muito diferente, as meninas tiraram 26 pontos a mais que os meninos em leitura. Elas também tiveram, entre os países da OCDE, um desempenho levemente superior em ciências, de dois pontos a mais que os meninos. No Brasil, o desempenho em ciências foi semelhante entre meninos e meninas.
Os meninos, no entanto, superaram as meninas em cinco pontos em matemática entre os países da OCDE. No Brasil, a diferença foi maior, de nove pontos a mais para eles, em média.
De acordo com os dados coletados pelo Pisa, no Brasil, há diferenças entre os dois grupos na hora de escolher a profissão que vão seguir. Entre os meninos com as melhores performances em matemática ou ciências, cerca de um a cada três espera, aos 30 anos, estar trabalhando com engenharia ou como cientista. Entre as meninas, apenas um a cada cinco esperam o mesmo.
Entre as meninas com as melhores performances, cerca de duas a cada cinco esperam trabalhar em profissões ligadas à saúde. Entre os meninos, um a cada quatro esperam seguir as mesmas carreiras. Apenas 4% dos meninos e quase nenhuma menina pretende trabalhar com profissões ligadas a tecnologia da informação e comunicação.
O Pisa é aplicado a cada três anos e avalia estudantes de 15 anos quanto aos conhecimentos em leitura, matemática e ciências. Os países também podem optar por participar das avaliações de competência financeira e resolução colaborativa de problemas. Em 2018, o Pisa foi aplicado em 79 países e regiões a 600 mil estudantes. No Brasil, cerca de 10,7 mil estudantes de 638 escolas fizeram as provas.
Vida dos estudantes
No Brasil, 29% dos estudantes relataram sofrer bullying pelo menos algumas vezes por mês. Essa porcentagem é maior que a média dos países da OCDE, que é 23%. A maioria dos estudantes, 85%, no entanto, diz que é bom ajudar alunos que não podem se defender. Entre os países da OCDE, a média é 88%.
O estudo mostra ainda que cerca de 23% dos estudantes brasileiros dizem que se sentem sozinhos na escola, enquanto a média da OCDE é 16%.
Metade dos alunos havia faltado um dia de aula e 44% haviam chegado atrasados nas duas semanas anteriores à aplicação do Pisa. Entre os países da OCDE, apenas 21% haviam faltado e 48% chegaram atrasados.
A maior parte dos estudantes brasileiros, 90%, diz que sempre se sente feliz e, 77%, que geralmente encontram saídas para situações difíceis.
Pouco mais da metade dos brasileiros, 55%, diz que quando falha, preocupa-se com o que os outros pensam. O relatório diz ainda que em quase todos os sistemas educacionais analisados, inclusive no Brasil, mulheres têm mais medo de falhar que os homens. A diferença entre os gêneros, segundo a OCDE, é maior ainda entre os melhores alunos.