Tradicional espaço para comércio de livros novos e usados a baixo custo, a Praça do Sebo completa esta sexta (26) 30 anos de existência. Sem festa e à espera de requalificação.
Os comerciantes se queixam da precariedade dos banheiros, da falta de policiamento e de incentivo da prefeitura em promover atividades culturais. O pátio abriga 19 boxes e fica na Rua da Roda, por trás da Avenida Guararapes, área central do Recife.
A ausência de placas de sinalização é outro problema apontado pelos livreiros. “Aqui é um lugar de cultura. Mas poucas pessoas conhecem e, muitas vezes, têm dificuldade em encontrar”, diz a comerciante Cátia Sales.
Há 13 anos vendendo livros em um dos boxes, Cátia cuida da praça como se fosse sua. Cansada de esperar uma intervenção, comprou material e pagou para pintarem o gradil e os bancos. “Não terminamos porque a prefeitura disse que era proibido”, reclama.
O pátio conta com quatro banheiros, dois públicos e dois dos locatários. Só os públicos funcionam. Mau cheiro e degradação caracterizam os equipamentos. Há buracos na calçada, as árvores estão sem poda e alguns postes, com as lâmpadas quebradas.
O perfil dos frequentadores da praça mudou. A maioria é composta por estudantes à procura de livros didáticos, como Raul Carlos Correia, 30 anos. “O ambiente daqui é aconchegante e o acervo, de qualidade. Só deveria ter mais divulgação.”
Colecionadores assíduos são poucos. “Acho que a falta de segurança influencia nisso”, opina o comerciante Marcelo Dias, um dos mais antigos da área e que manteve a profissão do pai. Vendedores pagam a um vigia na tentativa de evitar roubos à noite.
Nos primeiros anos de instalação, a praça abrigava recitais de poesia, encontros de escritores e poetas. E ninguém melhor para falar desses tempos do que o escritor e pesquisador popular Liêdo Maranhão. Ele foi um dos responsáveis pela construção da praça, que antes servia de banheiro público para os frequentadores dos bares das redondezas.
Em 1981, ele sugeriu ao então ministro da Educação e Cultura, Eduardo Portela, e ao delegado do MEC em Pernambuco, Francisco Balthar, de quem era amigo, transformar aquela área em sebo.
Apesar de ainda frequentar o espaço, Liêdo Maranhão diz que o local está maltratado e esquecido. “É lamentável ver a praça abandonada. Era um lugar frequentado por pessoas de outros Estados e até de fora do País. Mas os grandes pesquisadores desapareceram e hoje também é raro encontrar livros bons”, comenta em tom saudosista.
O acervo de folhetos de cordel, fotos, livros, jornais e almanaques raros pertencentes ao estudioso da cultura popular foi adquirido nos sebos da cidade.
Desde o ano passado, a prefeitura havia anunciado que a praça estaria incluída nas ações do Projeto de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais do Recife (Procidades).
No entanto não informou quais serão essas ações. Em nota, a assessoria disse que “a prefeitura já garantiu empréstimo de US$ 20 milhões para viabilizar melhorias no Centro do Recife e a previsão é que a cidade possa contar com esse investimento a partir de janeiro de 2012.”
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