A obra de restauração das fachadas e da coberta do Edifício Chanteclair, no Bairro do Recife, está prevista para terminar no início de março de 2012. Mas quem passa pela Avenida Marquês de Olinda, a entrada principal do prédio, entrevê pelas frestas da tela de proteção que circunda o imóvel, novas cores tingindo as paredes. O Chanteclair volta a exibir o tom amarelo, com detalhes de branco neve e de branco gelo, como na época da inauguração, na segunda década do século 20.
Apesar de trechos da parede, do primeiro andar para baixo, apresentarem pintura rosada, essa nunca foi a cor do Chanteclair, diz o arquiteto Jorge Passos, responsável pelo trabalho de recuperação das quatro fachadas, coberta e telhado da edificação. "O prédio sempre foi ocre, encontramos a marcação das cores, muito desgastadas, numa área onde nunca houve repintura, do primeiro andar para cima", comenta.
Jorge Passos esclarece que pintura é um elemento da contemporaneidade e, portanto, a cor do Chanteclair não resgata a original. É a mais aproximada possível. "Estamos usando uma tinta de base acrílica, fosca, desenvolvida pela empresa parceira da obra, com um novo produto para eliminar fungos e bolores", diz ele. Antes da camada definitiva, a parede recebe uma pintura de proteção. É essa que está visível aos passantes.
Retomado em dezembro de 2010, o trabalho entra na reta final, com 70% dos serviços realizados. Foram recuperados todos os elementos decorativos das fachadas e as esquadrias. Para dar maior durabilidade à intervenção, o arquiteto substituiu a estrutura de madeira do telhado por outra metálica com proteção anticorrosiva. "Trocamos o material, mas a declividade e o número de tesouras (conjunto de peças que sustenta a cobertura) são mantidos".
A previsão para os próximos 15 dias é iniciar a instalação das partes de vidro e a pintura definitiva, começando pela fachada voltada para a Avenida Marquês de Olinda. No momento, operários fazem a pintura de proteção e das esquadrias, emassam paredes portas e janelas, também impermeabilizam as platibandas (muretas construídas no topo das paredes externas para proteger o telhado e que servem como ornamentação) e cornijas (enfeites salientes na fachada).
ESPECIALISTAS - Para recuperar os 733 ornatos, 130 portas e 106 janelas há um time formado por 60 pessoas, das quais 49 são operários especializados em restauração de ornatos e revestimentos. O imóvel encontrava-se em ruínas. "Está de pé até hoje, apesar de todos os problemas, porque as paredes transversais, que vão do térreo à cobertura, são fundamentais na estabilidade. Em todos esses anos, só elementos decorativos desmoronaram", declara Jorge Passos.
O Chanteclair ocupa uma quadra inteira, delimitada pela Avenida Marquês de Olinda (fachada mais decorada), Cais da Alfândega, Rua Vigário Tenório (fachada mais simples) e Rua da Madre de Deus. É formado por seis edifícios conjugados, cada um com numeração distinta, mas apresenta-se como imóvel único. "Essa é a peculiaridade da edificação", diz o arquiteto.
O prédio é dividido em térreo, sobreloja, primeiro e segundo pavimentos, projetado para uso misto: comércio e residência. Pertence à Santa Casa de Misericórdia, irmandade vinculada à Arquidiocese de Olinda e Recife. Dos anos 50 aos 70 funcionou como casa noturna.