A série de reportagens Ataque de Tubarão: 20 anos se encerra neste sábado (30) com pesquisa que revela o impacto psicológico nas pessoas atacadas pelo animal. O estudo e os relatos das vítimas mostram que o acompanhamento psicológico é essencial.
Texto: Carlos Eduardo Santos e Verônica Falcão
Estresse e depressão são as principais consequências dos ataques de tubarão. É o que revela estudo inédito das vítimas, realizado pela psicóloga Amanda Patrícia Sales.
Na dissertação, apresentada este ano no mestrado de neuropsiquiatria e ciências do comportamento da Universidade Federal de Pernambuco, Amanda quantifica as psicopatologias e faz um alerta. “Essas pessoas necessitam de acompanhamento psicológico e, se for o caso, também psiquiátrico, de preferência logo após o acidente, para evitar o agravamento do quadro.”
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O trabalho mostra que 25% dos sobreviventes analisados apresentaram transtorno de estresse agudo, 50% transtorno de estresse pós-traumático e 62,5% depressão (humor deprimido, falta de energia, autoestima baixa).
Enquanto o primeiro tipo de transtorno surge até um mês após o ataque, o segundo persiste após esse período. Os sintomas, em ambos, são os mesmos. Um deles é a reexperiência traumática, quando, lembrando ou durante pesadelos, a vítima sente como se o fato estivesse acontecendo novamente. “Há sensação de angústia e o coração dispara.”
Outro sintoma é a hiperexcitabilidade psíquica, traduzida pelo humor ansioso, taquicardia e sudorese. “O transtorno também faz com que a pessoa se distancie emocionalmente, evitando pessoas e lugares”, descreve Amanda.
Intitulada “Transtornos mentais em vítimas de ataque de tubarão”, a dissertação se baseia no estudo de caso de oito vítimas. Ao todo, há 55 ataques registrados oficialmente nas duas últimas décadas, com 20 mortes. Mas o número pode chegar ao dobro, segundo médicos-legistas e bombeiros que defendem a tese de subnotificação.
A maioria – 69,1% – tinha de 14 a 25 anos no dia do ataque. Para Amanda Patrícia, nessa faixa etária as pessoas costumam assumir mais riscos. “Os que estudei sabiam que havia possibilidade de ataque de tubarão e mesmo assim entraram no mar. Eles me relataram pensar que nunca ia acontecer com ele.”
Leia mais na edição deste sábado (30) do Jornal do Commercio