IMPUNIDADE

Tragédia da Noar ainda sem respostas

Um ano depois, responsáveis não foram identificados. Famílias das vítimas sofrem sozinhas

Roberta Soares
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Roberta Soares
Publicado em 08/07/2012 às 10:49
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
FOTO: Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
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Uma tragédia impune, sem providências, sem consequên-cias. Um ano depois, completados na próxima sexta-feira, o acidente com o voo 4896 da Noar Linhas Aéreas (veja infográfico com reconstituição do acidente e galeria de fotos da época), que matou 16 pessoas (14 passageiros e dois tripulantes), continua sem respostas. Até agora, sabe-se apenas que a queda da aeronave LET-410, que foi ao chão 3 minutos e 18 segundos depois de decolar, teria como uma das causas a fadiga extremamente precoce de uma peça. Nada mais. Os culpados não foram sequer apontados, muito menos punidos. As investigações se arrastam, sem qualquer perspectiva de desfecho. Indenizações não foram pagas. Nem satisfação aos familiares das vítimas tem sido dada pelos vários órgãos que investigam o caso. Aos parentes só restaram a dor, a perda. Só restou reaprender a viver, esperar por respostas. Alguns têm conseguido, outros não.

A queda do LET-410 não matou apenas 16 pessoas naquele início de manhã. Destruiu 16 famílias. Enfraqueceu e destroçou mães, pais, filhos, irmãos. Levou sonhos, acabou com esperanças. Um ano depois, poucos topam falar sobre a tragédia. Muitos fogem do assunto. Relembrar o acidente é reabrir uma grande ferida. É pura dor. "Me desculpe, mas dói muito. O sentimento ainda é muito doloroso. Falar dela é aumentar a perda. Lembrar que minha filha se foi aos 25 anos, me faz muito mal. Desculpe", assim Roberval de Oliveira, pai da representante comercial e ex-modelo Débora Pontes, que entrou no avião da Noar para cumprir uma agenda de trabalho no Rio Grande do Norte, destino do voo, atendeu à ligação da reportagem na semana passada.

A dor continua fazendo parte da rotina de todos. Os pais do dentista e professor Bruno Frederico Ribeiro de Albuquerque, 41 anos, ainda estão no chão. A mãe se recusa a retomar a vida, sequer sai de casa. Se trancou para o mundo. O pai tenta se erguer, mas tem sido difícil. Chora copiosamente sempre que lembra do filho perdido. Os dois não se recuperaram da perda do segundo filho. O primeiro morreu assassinado 20 anos antes. A família do empresário André Louis Pimenta, 38, não comenta o acidente. Nem mesmo com os filhos do empresário, de 8 e 11 anos. Ninguém impôs o silêncio, mas ele virou permanente. É como se tivessem feito um pacto inconsciente.

"Não tem tempo que cure essa dor. O tempo não repõe um membro amputado. Ajuda a andar sem ele, mas não o traz de volta. Assim tem sido. Não há punição ou justiça que vá trazer meu filho de volta. Não acredito nisso. A dor é tanta que, só agora, um ano depois, estamos contratando um advogado para agir. Movidos mais pela responsabilidade coletiva do que por necessidade pessoal. Quero processar a Gol porque meu filho comprou a passagem para voar por ela, não pela Noar", afirma o pai de André, Francisco Freitas, presidente da CDL de Fortaleza (CE).

Infográfico

Tragédia Noar

Nesse mar de sofrimento, coube a poucos parentes reagir, mesmo em luto. Arrumar forças para remexer nas feridas e cobrar providências, justiça, punição. Entre eles estão a odontóloga Taciana Guerra Farias, que perdeu o filho, o também odontólogo Raul Farias, 24, a professora Roseane Oliveira, que ficou sem a irmã, a engenheira civil Maria da Conceição Oliveira, 46, e o engenheiro Geyson Soares, cujo irmão, o diretor de engenharia da construtora Moura Dubeux Marcos Ely Soares, 44, também morreu no acidente. Geyson preside a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo Noar 4896 (AfavNoar), tendo Taciana Guerra como vice. A AfavNoar representa nove das 16 vítimas. Sete famílias, entre elas as do piloto Rivaldo Paurílio, 68, e do copiloto Roberto Gonçalves, 55, nunca se interessaram em fazer parte do grupo.

São eles que têm a missão de colocar o dedo na ferida, provocar os órgãos, cobrar respostas. Mas não têm tido sucesso. "Depois de todo esse tempo, não sabemos de nada. Não temos respostas. Não temos apoio de ninguém, não recebemos nem atenção. Mas eu quero saber o que aconteceu para aquela aeronave ter caído como caiu. Acredito que houve erro, que há culpados. Quero justiça, quero ver os responsáveis punidos, indiciados, presos. Precisamos disso", resume Taciana Guerra Farias, que mantém ainda intacto o consultório do filho perdido, formado em odontologia seis meses antes do acidente. “Ainda não tive coragem de mexer nas coisas dele. É difícil até entrar aqui”, diz. O sentimento da dentista é compartilhado pela professora Roseane Oliveira. "Dói muito, mas precisamos remexer. Precisamos de respostas. A Noar é a responsável, sabemos disso. Aquela aeronave não poderia ter sequer decolado. Os problemas foram relatados, mas mesmo assim ela decolou. A impressão é que a aeronave era ruim e, mesmo assim, a empresa continuou utilizando-a", acusa a professora.

Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Guga Matos/JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Guga Matos/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Amigos e familiares de vítimas do acidente. - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Amigos e familiares de vítimas do acidente. - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Avião cai no Recife e deixa 16 pessoas mortas - Foto: Guga Matos/JC Imagem

 

O engenheiro civil Geyson Soares explica que o pouco que a associação sabe é pelo que saiu na imprensa. "Recebemos apenas o seguro (Reta), que é obrigatório. Ainda não houve indenizações, nem temos satisfações da Aeronáutica ou da Polícia Federal. Houve a divulgação de um relatório parcial pela Aeronáutica, em setembro do ano passado, mas nada definitivo. Estamos sós, à espera. Chegamos a enviar uma carta ao governador Eduardo Campos, em abril passado, pedindo um empenho pessoal dele para agilizar as investigações, mas nem retorno tivemos. Pedimos também a construção de um monumento às vítimas, também sem resposta. Estamos, de fato, sozinhos", resume. A esperança das famílias está depositada na investigação da Polícia Federal, que se arrasta há quase um ano. A indenização financeira é o que menos importa. O que eles buscam, de fato, são culpados.

Ouça entrevista do coronel Fernando Carvalho, do Cenipa, sobre as investigações e leia mais na edição deste domingo do JC



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