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Uma janela para o Rio Capibaribe

Arquiteto César Barros propõe o uso de 15 quilômetros das margens do rio por ciclistas e pedestres

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 01/09/2012 às 14:30
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Arquiteto César Barros propõe o uso de 15 quilômetros das margens do rio por ciclistas e pedestres - FOTO: Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Você já pensou em usar as margens do Rio Capibaribe como caminho alternativo, de Apipucos até o Centro do Recife? Ou aproveitar a área para pedalar, andar de patins e deslizar no skate? Pois é essa a proposta do escritório do arquiteto César Barros para um trecho de 15 quilômetros do rio, da BR-101 à Antiga Ponte Giratória, entre os bairros do Recife e de São José.

O Parque Linear Capibaribe prevê a ocupação de um pedaço da beira do rio, com dez metros de largura. Quatro metros são destinados às calçadas, cada uma com dois metros de largura. Os seis metros restantes, entre os passeios públicos, são compartilhados por bicicleta, skate, patins e corredores, com os espaços demarcados por tachões e pintura no chão.

Nos trechos onde já existe avenida em funcionamento – bairros da Torre e Madalena, na Zona Oeste, por exemplo – a via parque ficaria ao lado da pista motorizada, totalizando 18 metros de largura. “Pode-se apertar um pouco a pista por onde circulam carros, ônibus e motos, para acomodar os dois usos”, afirma César Barros.

Píeres flutuantes e removíveis ao longo do rio completam a via parque, uma tentativa de resgatar e estreitar a relação dos moradores da capital pernambucana com o Capibaribe. Além, claro, de tratar as margens como um sistema viário opcional para pedestres, estimulando o deslocamento a pé para pequenos percursos. A via linear, nas duas margens, facilitará a comunicação entre 13 parques, praças e áreas verdes próximos do curso d’água.

O arquiteto cita os Parques de Apipucos e Caiara (em construção), Santana e Jaqueira, a Praça do Derby e a Ilha do Zeca (entre a Ilha do Retiro e Afogados). No Recife, o Capibaribe passeia pela Várzea, Caxangá, Dois Irmãos, Apipucos, Monteiro, Poço da Panela, Santana, Iputinga, Torre, Madalena, Graças, Derby, Paissandu, Ilha do Retiro, Coelhos e Boa Vista, até a Antiga Ponte Giratória, numa extensão de 20,5 quilômetros.

A vegetação de mangue existente na borda do rio é preservada na proposta e outras espécies são plantadas na terra. “Com a ciclovia sombreada (ciclofresca), as pistas para corredores, skate, patins e patinete, espera-se diminuir a poluição do rio. É preciso ampliar as obras de esgotamento sanitário e educar a população para não jogar lixo no Capibaribe”, destaca. O rio mais limpo, observa, será mais agradável para o transporte fluvial, como pretende o governo do Estado.

O projeto do Parque Linear Capibaribe não foi contratado por nenhum cliente, público ou privado. “É minha contribuição com a melhoria da humanidade”, diz César. A ideia é típica da arquitetura não solicitada (Unsolicited Architeture), termo criado em 2007 por Ole Bouman, diretor do Instituto Holandês de Arquitetos, para definir intervenções espontâneas de arquitetos, para melhorar a vida do cidadão.

Embora não tenha sido requisitada, a via parque do Capibaribe pode, sim, ser implementada. “Vai depender da vontade da prefeitura”, comenta César Barros, que trabalha com outros quatro arquitetos. Ele calcula em R$ 50 milhões o custo da obra. Sobre os trechos obstruídos nas margens do rio, disse que a prefeitura pode negociar a abertura da via para o pedestre, com os ocupantes dos terrenos.

“A pessoa continuaria dona do imóvel e não haveria necessidade de desapropriações, abrir as bordas do rio para a cidade seria uma gentileza urbana do morador. Para implantar a via parque, a prefeitura faz tudo sozinha ou negocia com os proprietários de terras”, diz ele. Palafitas existentes na margem do rio, lembra o arquiteto, serão retiradas pelo programa municipal Capibaribe Melhor.

Por lei, construções em área ribeirinha devem respeitar um recuo de 20 metros do rio. A via parque ocuparia 10 metros desse local, onde são proibidas edificações. “Acredito numa sociedade melhor, não creio em um futuro de cidade, Estado ou país gerido por uma pessoa e quatro assessores. Plano de gestão precisa ser construído com a população”, diz César Barros, ao justificar o projeto.

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