Se no passado eles foram símbolo de luta e resistência do povo pernambucano diante do invasor holandês, os Fortes do Arraial Velho do Bom Jesus, no Sítio da Trindade, em Casa Amarela, e do Arraial Novo, na Avenida do Forte, nos Torrões, agora precisam de proteção para manter viva a história que os rodeia. Esquecidos pelo poder público, sucumbiram aos quase quatro séculos desde a construção. Quem passa pelos locais, se não tiver conhecimento prévio dos acontecimentos, dificilmente saberá das batalhas travadas durante a ocupação flamenga. Capim alto e falta de sinalização e conservação encobrem fragmentos da história.
Edificado em terra, o Forte Real do Bom Jesus, no Sítio da Trindade, resistiu durante cinco anos aos ataques das tropas holandesas, entre 1630 e 1635. "O local é um dos redutos mais importantes na defesa pernambucana contra os holandeses", explica o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Pernambuco, Frederico Almeida.
Submetido a severo bombardeio, capitulou após cerco que durou três meses. "O fragmento é pouco visível, porque a estrutura é uma ruína. As pessoas passam e não entendem a importância", acrescenta Frederico. Em 1996, o Iphan tombou a área.
O forte está delimitado por grades, mas a falta de informações omite a história. No trecho, não há placas ou faixas de identificação. O projeto de transformá-lo em museu arqueológico nunca saiu do papel. Existe também a proposta de fazer uma pista de cooper mostrando o traçado da fortificação.
No Arraial Novo do Bom Jesus, a degradação é pior. Segundo o coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Albuquerque, após a queda do Forte Real do Bom Jesus, o governador de Pernambuco à época, Matias de Albuquerque, mandou construir a fortificação. "A função era servir de posto de comando da resistência aos holandeses", explica. Mas não é raro encontrar pessoas que desconheçam por completo a história do lugar. "É um navio que afundou", dizem uns. "Olha o mastro dele", acrescentam outros, em referência ao Cruzeiro do Forte.
A única identificação é uma placa do lado de fora da praça. As letras, no entanto, estão apagadas. O forte foi descoberto a partir de mapas históricos que revelam o sistema de defesa pernambucano.
"A praça está abandonada, embora muitas pessoas usem o espaço. Não existe manutenção regular. O capim está alto, colocam cavalos para pastar e ninguém faz nada", afirma o morador José Castro, 62 anos. "Ciclistas aproveitam a parede inclinada do fosso para treinar bicicross. A tendência é a destruição dos vestígios caso não haja uma ação imediata", explica Marcos Albuquerque. "Claro que uma sinalização e uma maquete ajudariam a entender melhor os monumentos, mas não podemos responsabilizar apenas os órgãos públicos. A população também não se interessa pela história", comenta o arqueólogo.
Em relação à carência na sinalização, o secretário de turismo e lazer do Recife, Felipe Carreras, afirmou que o processo de compra das placas indicativas está em fase de licitação. "A previsão é colocarmos neste primeiro semestre", adianta. Ao todo, 500 pontos turísticos receberão as placas.