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Entrega de habitacionais poderia ter evitado tragédia nos Coelhos

Um Conjunto Habitacional foi anunciado pela prefeitura em 2006, com prazo de entrega para 2011

Do JC Online
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Publicado em 07/08/2013 às 6:15
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Um Conjunto Habitacional foi anunciado pela prefeitura em 2006, com prazo de entrega para 2011 - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Eraldo Fernandes da Silva é biscateiro. Mora no bairro dos Coelhos, Centro do Recife, há mais de 20 anos. Na manhã dessa terça-feira (6), ele cascavilhava os restos de sua casa, na beira do Rio Capibaribe, destruída num incêndio segunda-feira à tarde. “Sobrou nada”, constatou. “Não estaríamos nessa situação se o habitacional prometido para a gente tivesse sido entregue no prazo”, afirma. 

A moradia a que ele se refere é o Conjunto Habitacional Coelhos, anunciado pela prefeitura em 2006 e com obras iniciadas em 2009. O prazo de entrega era março de 2011. Eraldo tem razão. Se o prazo tivesse sido respeitado, na manhã de ontem ele estaria num apartamento de dois quartos na Praça Sérgio Loreto, bairro de São José, Centro do Recife. E não remexendo no rescaldo do incêndio, à procura de bichos de estimação, roupas e documentos, na comunidade Campinho.

Porém, o habitacional onde ele deveria estar morando há dois anos e cinco meses só tem 65% das obras executadas. Falta reboco nas paredes. Falta a infraestrutura para as prometidas moradias dignas. O secretário de Habitação do Recife, Eduardo Granja, quer entregar os 224 apartamentos, agrupados em sete blocos, este ano. “Em dezembro estará tudo pronto”, diz.

O Habitacional Coelhos, na verdade, tem 384 unidades residenciais. Outros 160 apartamentos, organizados em cinco blocos, tiveram as obras iniciadas em 2010, na Travessa do Gusmão, ao lado da Praça Sérgio Loreto. Mas apenas 40% da obra foi feita. Assim mesmo, a prefeitura pretende entregar as novas moradias no fim de janeiro de 2014.

Com os operários em férias coletivas, as obras estão paralisadas desde o mês passado. A previsão de retorno é 20 de agosto. No habitacional da Travessa do Gusmão, os blocos estão de pé, mas nem todos estão com os quatro pavimentos completos. Alguns só têm dois pisos levantados. Falta a coberta, o telhado e o reboco, colocar portas e janelas, instalações elétricas e sanitárias, concluir os reservatórios d’água e pavimentar as ruas.

De acordo com fontes do setor, pelo atual estágio do habitacional, o conjunto da Travessa do Gusmão não fica pronto em janeiro de 2014. Teria mais um ano e meio de obra, no mínimo. “Não falta tanto assim, todas as fundações estão prontas”, rebate o secretário Eduardo Granja. Na Praça Sérgio Loreto, diz ele, três blocos vão entrar em acabamento, ainda este mês, quando terminarem as férias coletivas.

A construção dos dois habitacionais – e de um terceiro imóvel também destinado a moradores de palafitas do Capibaribe, o Conjunto Vila Brasil, na Ilha Joana Bezerra – atravessam gestões municipais. Foi anunciada por João Paulo, no segundo ano do segundo mandato (2005-2008). Começou no primeiro ano da administração de João da Costa (2009-2012). Agora é conduzida por Geraldo Júlio.

A obra é um parceria da prefeitura com o governo federal e, segundo Eduardo Granja, teria começado sem autorização do controle urbano, sem licença ambiental e sem a aprovação do projeto de destinação dos resíduos sólidos. São três licenças concedidas por órgãos municipais. Sem os documentos, a Caixa Econômica não liberou a verba federal. Daí o atraso na execução do serviço, justifica o secretário.

“Resolvemos tudo isso agora”, afirma. O Habitacional Vila Brasil, para 448 famílias da beira do rio, no bairro de São José, está com as obras suspensas. “A empresa faliu e abandonou o serviço. Esta semana, vamos publicar licitação no Diário Oficial para retomada dos quatro blocos iniciados. Até o fim de setembro, faremos chamada pública para construção dos dez blocos restantes. A previsão de conclusão é fevereiro de 2015”, informa o secretário.

Enquanto isso, os ribeirinhos continuam à mercê de incêndios e à espera da casa prometida. “Só não perdi o principal: minha vida e a vida dos meus três filhos”, declara Eleonora Tomé de Santana, da comunidade Campinho, olhando o que restou da casa onde morava.

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