venda de crianças

'Quem faz isso é um monstro'

A avó materna das crianças negociadas pelos pais na internet é só mágoa e revolta. Ela não entende como a filha pôde planejar a venda das meninas com o marido. Moradora de Nova Friburgo, no Rio, a pensionista de 45 anos quer ficar com a guarda das duas netas pequenas. Mas tem medo

Betânia Santana
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Betânia Santana
Publicado em 24/09/2013 às 5:36
Ricardo B. labastier/JC IMAGEM
A avó materna das crianças negociadas pelos pais na internet é só mágoa e revolta. Ela não entende como a filha pôde planejar a venda das meninas com o marido. Moradora de Nova Friburgo, no Rio, a pensionista de 45 anos quer ficar com a guarda das duas netas pequenas. Mas tem medo - FOTO: Ricardo B. labastier/JC IMAGEM
Leitura:

JC – Como foi que a senhora soube que sua filha e seu genro haviam sido presos por tentar vender a filha via internet?
AVÓ MATERNA –
Minha família viu na TV e me avisou. Na hora, tentei entrar em contato com minha filha, mas não consegui. Foi aí que decidi procurar o Conselho Tutelar de Nova Friburgo. Não quis acreditar.

JC – Como a senhora recebeu essa notícia?
AVÓ –
Para mim, está sendo uma vergonha. A gente bota um filho no mundo e nunca espera que ele vá fazer uma coisa dessas.

JC – O Conselho Tutelar disse que a senhora os procurou e demonstrou interesse em ficar com suas netas. É verdade mesmo?
AVÓ –
São minhas netas, um pedaço de mim. Jamais as deixaria desamparadas neste momento difícil. Moro em casa própria, tenho uma pensão, sou filha de militar e posso criá-las.

JC – A senhora mora sozinha?
AVÓ –
Vivo com minha filha caçula, de 8 anos.

JC – Então, a senhora tem condições de assumir a criação das crianças?
AVÓ –
Ainda há pouco conversei com minha mãe sobre isso. A gente quer, sim. A família é grande. Temos todas as condições. Nosso único senão é que estamos lidando com um bandido. Temos medo de, no futuro, sofrer represálias. Fico um pouco indecisa por causa disso. Vou procurar o Ministério Público, porque precisamos de uma garantia de segurança. Temos receio de eles virem atrás de alguém da família. Mesmo assim, estou firme no propósito. De coração, quero ficar com elas. Estou de braços abertos e cheia de amor para dar. Estou com medo, mas tenho que fazer isso.

JC – Qual a relação da senhora com seu genro?
AVÓ –
Eu só o vi duas vezes na vida. Ele se juntou com minha filha e tinham uma vida louca. Ela arrumou esse homem, mas a família nunca aprovou. Então, minha filha abandonou todo mundo para viver com ele, do jeito deles. Este ano, ela comentou que ele tinha cumprido pena de três anos no Rio, mas mentiu, não disse que ele era foragido. Falou que eles se mudariam para Pernambuco para ele fugir das más amizades. A família nunca aprovou o relacionamento.

JC – Vocês tentaram convencer sua filha a romper com ele?
AVÓ –
Entrei em contato com ela para saber se ela vivia bem. Falei para ela vir para cá, para fazer um cantinho na laje e viver comigo. Mandei ela deixar esse cara, mas ela disse que vivia bem, que ele era bom pai e bom marido. Eu quis ajudá-la.

JC – Como é para a senhora saber que sua filha e seu genro estavam tentando vender as filhas?
AVÓ –
É o fim. A gente jamais imagina uma coisa assim. Para mim, a pessoa que faz isso é um monstro. Não tem sequer amor a si mesmo. Mesmo com todas as dificuldades que tive com meus filhos, nunca pensei nessa possibilidade.

JC – Mas essa sua filha não foi criada pela senhora, e sim por sua mãe. Por quê?
AVÓ –
Ela foi criada pela avó porque o pai dela tinha problema de alcoolismo. Minha mãe achou melhor tirá-la desse ambiente.

JC – A senhora perdoa sua filha?
AVÓ –
Não. Não perdoo. Pelo menos neste momento.

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