O lugar onde morou um dos maiores pensadores do século 20 pede socorro. A Fundação Gilberto Freyre, no bairro de Apipucos, Zona Norte do Recife, passa por momentos difíceis e enfrenta problemas estruturais que colocam em risco a integridade de obras valiosas do patrimônio cultural deixado pelo sociólogo. Como se não bastasse a situação crítica, o local ainda sofre com a insegurança. Em três anos, foram dez investidas de criminosos. Atualmente, existe um projeto que contempla a reforma do espaço e a implantação de um sistema de segurança, orçado em R$ 1,8 milhão. Mas a entidade não dispõe da verba, nem conta com apoio do poder público.
A casa-museu, onde móveis e todo o acervo de Gilberto Freyre estão abrigados, pouco a pouco vai se deteriorando. O motivo são as inúmeras infiltrações. Parte do teto da sala Lula Cardoso Ayres desabou e os quadros do pintor pernambucano tiveram de ser transferidos para outro espaço. Na sala de estar, a madeira do teto cedeu. É possível também observar marcas de infiltração na sala Cícero Dias, onde ficam guardadas telas valiosas do artista.
Na parte superior do sobrado, os problemas podem ser vistos nos quartos que pertenceram aos filhos de Freyre.Assoalhos desgastados e janelas emperradas revelam a urgência de reparos. Nem o memorial, onde estão os restos mortais do escritor e da esposa dele, Magdalena, escapou da ação implacável do tempo. À noite, o monumento, projetado pelo escultor Francisco Brennand, fica às escuras, pois as instalações elétricas não funcionam. A fonte que havia no local teve de ser desativada e os peixes ornamentais, levados para outro lugar. O ponto mais crítico está no muro que protege a propriedade. Parte da estrutura lateral desmoronou há mais de um ano, deixando o espaço vulnerável à entrada de bandidos.
“Precisamos que as autoridades entendam que esta instituição é um patrimônio do povo pernambucano, pois o nome de Gilberto Freyre é conhecido nacional e internacionalmente. Recebemos todos os dias visitantes do Brasil e do mundo inteiro. Eles
“Já procuramos prefeitura, Estado e governo federal, mas sempre alegam que não podem nos ajudar porque a fundação é de direito privado”, explicou. Manuella contou que há mais de um ano a fundação tenta convênio com a Secretaria Estadual de Educação. “O projeto prevê a segurança do local e a manutenção do sítio em torno do museu. Assim, os alunos da rede estadual de ensino visitariam o espaço para conhecer de perto a vida e a obra de Gilberto Freyre”, diz.
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação afirma que o processo de convênio com a Fundação Gilberto Freyre está em tramitação no setor jurídico, respondendo a uma demanda da Procuradoria-Geral do Estado. A previsão é que a parceria seja firmada até o início de novembro.
ARROMBAMENTO - Na manhã do dia 30, funcionários da Fundação Gilberto Freyre tiveram mais uma surpresa desagradável. Durante a madrugada, ladrões invadiram a área administrativa e roubaram um aparelho de ar-condicionado. Nem as rondas diárias da Polícia Militar foram suficientes para inibir a audácia dos criminosos. Desde a primeira investida, já foram levados bicicleta, notebook e dinheiro. “Trabalho aqui há 12 anos e nunca vi a fundação em uma situação como a que se encontra hoje. Somos vítimas frequentes da violência e quando procuramos as autoridades, dizem ser difícil chegar aos bandidos porque a fundação não dispõe de segurança privada. Esquecem que temos o direito constitucional de sermos protegidos pelo Estado”, lamentou Eliane Nóbrega, gerente administrativo-financeira.
