Visto de longe, o banheiro público do Cais José Mariano, na Boa Vista, Centro do Recife, tem até uma aparência simpática. A casinha antiga, recém-pintada, no entanto, se transforma à medida que a pessoa se aproxima e sente o mau cheiro em volta. Lá dentro, então, a situação é crítica. Basta dizer que as descargas das bacias sanitárias não funcionam e a pia é um enfeite.
Para jogar fora o conteúdo das privadas, zeladores da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) usam baldes com água, tirada de uma cisterna. Mas, o esvaziamento das bacias cria outro problema. A água da limpeza, misturada com urina, transborda pela caixa coletora de esgoto, ao lado do banheiro, e vai direto para a calçada do cais. Imagine isso acontecendo repetidas vezes ao dia.
A bem da verdade, o prédio tem um reservatório, que deveria levar água às descargas e à pia. Porém, quando a caixa enche, sai água por todos os lados, escorrendo pelas paredes, passando pela fiação elétrica e encharcando o chão. Jatos são lançados, inclusive, na calçada, como um chuveiro sobre os passantes.
De acordo com trabalhadores da região, além da falta de manutenção, o lugar é danificado por vândalos. À noite, o banheiro fica às escuras: faltam duas lâmpadas e a terceira está queimada.
“Pintaram o prédio, mas esqueceram serviços essenciais. A prefeitura deveria zelar mais pelo lugar. Uso por necessidade mesmo, o mau cheiro é grande”, comenta Alberto Pereira do Nascimento. “O banheiro é horrível, só entrei porque era uma emergência, é tudo precário, reformaram por fora. Não tive coragem de usar o papel higiênico”, declara Adriana Vieira.
O cenário se repete no sanitário público da Rua do Hospício, também no Centro, perto do Teatro do Parque. Não existe descarga no banheiro masculino, não tem água na pia e nem lâmpada na cabine. No banheiro feminino, a pia não tem torneira. “Quando tem funcionário, eles tiram água da cisterna em baldes e botam nas bacias”, diz a comerciante Eliana Trajano.
Encaixada no chão, a bacia sanitária é inadequada para um banheiro de mulheres. “Grávidas, idosas e deficientes não usam uma bacia dessa”, destaca Eliana. Ela também credita parte dos problemas a atos de vandalismo e ao mau uso da cabines. “O Centro é muito movimentado e deveria ter mais sanitários públicos”, diz.
As mesmas mazelas são encontradas nos sanitários da Rua do Hospício, próximo do Parque 13 de Maio. As paredes são sujas (por falta de limpeza), a pia do banheiro masculino não tem encanamento (a água é aparada em baldes) e a cabine feminina não tem lâmpada. Pedaços de fezes boiam na cisterna do prédio.
É com essa água contaminada que o homem da foto exibida nesta reportagem está tomando banho. “Os sanitários são podres e sebosos. Os funcionários não fazem a limpeza e quando a gente reclama, eles dizem que não têm obrigação porque o dinheiro deles já está na conta”, diz a comerciante Flávia Silva.
No Cais da Avenida Martins de Barros, a prefeitura está pintando as paredes externas do banheiro masculino, mas internamente a caixa-d’água está furada, tem mato crescendo no reservatório, as descargas não funcionam, a porta está quebrada e as lâmpadas não acendem. “O banheiro está acabado internamente e o serviço começa pela pintura? Que obra é essa, uma maquiagem”, indaga um frequentador do sanitário, que prefere não dizer o nome.
PREFEITURA - Dos 16 banheiros públicos do Centro, 13 foram recuperados este ano e três estão com obras em andamento, segundo a gerente-geral de Manutenção Urbana do Recife, Marília Dantas. “Fizemos obras de reestruturação física, com melhoria do piso e da laje, troca de louça sanitária, pintura, recuperação de esquadria e da iluminação”, diz ela. “Fizeram apenas pintura”, rebatem usuários dos prédios.
As obras começaram em julho deste ano e devem terminar este mês. “Infelizmente, a depredação é muito grande, com roubo de louça e torneiras. Alguns banheiros estavam num estado crítico porque houve demora na manutenção. Tivemos de fazer praticamente uma reconstrução no sanitário da Avenida Dantas Barreto (bairro de Santo Antônio)”, informa Marília Dantas.