ARRUDA

Vida muda devagar às margens do canal

Doações chegam e famílias cobram mais ação da prefeitura

Wagner Sarmento
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Wagner Sarmento
Publicado em 05/12/2013 às 6:47
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Há um mês, o drama dos meninos anfíbios de Saramandaia rodou o mundo. Eles tiravam seu sustento da imundície do Canal do Arruda, na Zona Norte do Recife. Catavam latas de alumínio em meio ao lixo que lhes cobria até o pescoço. As promessas do poder público foram resposta a uma cena que envergonhou. O caminho de volta, feito anteontem, revelou que algumas coisas mudaram e outras, nem tanto. A prefeitura, que segundo os moradores não tinha dado mais sinal de vida, foi procurada pela reportagem e apareceu à tarde para cadastrar as 14 crianças das duas famílias no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).

Duas assistentes sociais estiveram nos barracos para fazer a inscrição com os pais. O Peti é voltado para garotos e garotas entre 6 e 15 anos e visa oferecer atividades socioeducativas no contraturno das escolas. Paulo Henrique Félix da Silveira, 9 anos, estava jogando bola. Tauã Manoel da Silva Alves, 10, o único que estuda à tarde, se encontrava na Escola Municipal Jandira Botelho. Geivson Félix de Oliveira, 12, seu irmão, era o único em casa.

As doações chegaram aos montes. Alimentos, roupas e brinquedos aliviam um pouco a escassez de quase tudo. Era com uma bola doada que Geivson brincava com os irmãos e primos. "Chegou ajuda, muita cesta básica e outras coisas. Ainda está chegando. A vida está melhorando aos poucos. A prefeitura é que só apareceu uma vez", disse o biscateiro Manoel Francisco Alves, 38, pai de Tauã, o Galego.

O Canal do Arruda continuava como curso de lixo. Até sofá e geladeira foram flagrados. A limpeza rotineira esbarra na falta de educação da população, que continua a jogar entulhos no local. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) removeu o balanço pendurado em uma árvore na margem do fosso e que as crianças usavam para brincar.

Em contrapartida, a comunidade vai festejar, ainda este mês, a inauguração de uma praça na calçada quase defronte à casa de Paulinho, Galego e Geivson. São 12 homens trabalhando no lugar para erguer a área de lazer, que terá escorregador, balanço, pista, bancos e mesas. A cidadania chega aos poucos.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Área onde garotos foram flagrados mergulhados no lixo do canal vai mudando a paisagem com obras - Foto: Diego Nigro/JC Imagem

 

Quando deixaram de ser invisíveis, a prefeitura anunciou uma série de benefícios para as famílias dos meninos. De acordo com a secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna, a atualização cadastral no Bolsa Família já foi realizada, faltando apenas o desbloqueio por parte do governo federal. As crianças seriam incluídas também no Programa Mais Educação, para estudar em tempo integral na Escola Municipal Monteiro Lobato, mas os pais não apareceram para fazer a inscrição.

A secretaria também ofereceu aluguel social, no valor de R$ 200 para cada família, para que deixassem os barracos onde moram. "Eles estão resistindo. Falaram que queriam ficar lá, porque ainda estavam recebendo doações e aquele era o endereço fornecido", declarou Ana Rita.

O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) finalizou mapeamento em Saramandaia e verificou que existem outras cinco famílias na localidade que vivem na mesma condição de vulnerabilidade. Elas também estão sendo acompanhadas. A requalificação do Canal do Arruda, projeto de R$ 107 milhões, deve começar ano que vem.

A prefeitura aguarda propostas de execução para analisá-las. As obras incluirão calçadas, ciclovias e áreas de lazer. Enquanto as transformações maiores aguardam os trâmites necessários, os meninos fazem, eles mesmos, sua parte na mudança. Desde aquele dia, nenhum voltou a entrar no canal.

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