No ano passado, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) exigiu dos proprietários do Engenho Amparo, na Ilha de Itamaracá, mais zelo com o monumento, tombado pelo governo do Estado desde 1986. O primeiro resultado da cobrança foi a retirada de quilos e mais quilos de folhas secas e galhos de mato que escondiam a antiga fábrica, onde a cana era transformada em açúcar e álcool.
A fábrica, de acordo com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), é um imóvel de interesse histórico e arquitetônico, por representar um engenho banguê da primeira metade do século 18. Porém, está em ruínas. Só uma pesquisa arqueológica conseguiria identificar a localização da moenda, da casa das caldeiras e da casa de purgar, diz Ulisses Pernambucano, chefe da Célula de Arqueologia da Fundarpe.
Construído no fim do século 16 ou início do 17, o Amparo tem cerca de 400 hectares, divididos entre cinco proprietários particulares. Dois deles ocupam os trechos com remanescentes do engenho e assinaram um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a Segunda Promotoria de Justiça de Itamaracá, comprometendo-se a preservar o que ainda resta do engenho.
A primeira providência, iniciada em dezembro passado, foi a limpeza superficial da área. O próximo passo é fazer a remoção de árvores grandes que podem colocar as edificações em risco, guiada pela Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH). Numa etapa posterior, serão apresentadas à Fundarpe propostas para a preservação da fábrica, capela e senzala.
Rejane Strieder, promotora responsável pelo caso, observa que o ideal seria tudo isso ter acontecido anos atrás, quando as edificações apresentavam melhor estado de conservação. Ela instaurou inquérito civil, em agosto de 2013, depois de ser procurada pela Secretaria de Turismo da Ilha. O TAC, informa a promotora, prevê ações preliminares e não encerra o inquérito.
VISITA
Na avaliação do arqueólogo Ulisses Pernambucano, a capela e a senzala (um conjunto de casas), podem ser restauradas. Para a fábrica, sem condições de ser recuperada, ele recomenda a estabilização das ruínas. Os estudos e projetos deverão ser custeados pelos proprietários. O papel da Fundarpe é orientar e aprovar as propostas, diz o chefe da Célula de Tombamento da fundação, Roberto Carneiro.
A capela, do fim do século 18, encontra-se destelhada, com paredes rachadas, piso arrebentado, altar destruído e infestada de cupins. Uma árvore cresceu na nave da igreja. A casa-grande do engenho, possivelmente, encontra-se nas terras compradas pela Associação Beneficente O Pequeno Nazareno. Toda reformada, seria a sede da entidade, hoje sem moradores.
Dona de 50 hectares do engenho, a associação atende crianças e adolescentes em situação de rua, em Itamaracá, desde 2002. “Quando compramos as terras, a casa já era desse jeito”, declara a coordenadora do centro de acolhimento, Rosineide de Oliveira Reiger. A antiga fábrica fica na área da entidade. “Na limpeza, tiramos muita telha e areia das ruínas, o material encontrado está guardado, à disposição da Fundarpe.”
A mata por trás da casa está se regenerando e, com isso, os pássaros voltaram a habitar o local, diz Rosineide. “Fizemos plantio de pau-brasil, temos barriguda e bicho-preguiça”, conta. A ideia da associação é tirar partido da área verde e das ruínas para ajudar na manutenção das edificações históricas. “Poderíamos abrir para visitação e cobrar um valor simbólico”, comenta.
Em 1986, a Fundarpe elaborou projeto para recuperação da fábrica e da capela. “Usaríamos recursos do governo federal, a fundo perdido, mas o proprietário, à época, não se interessou pela proposta”, acrescenta a arquiteta Rosa Bonfim, chefe da Unidade de Preservação da fundação.