O Engenho Pindobal, em Paudalho, tem uma parte de sua história associada às Ligas Camponesas, movimento de trabalhadores rurais que se estendeu da década de 40 aos anos 60 do século 20, com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), na defesa da reforma agrária. Hoje, do antigo engenho, resta apenas a capela, dedicada a Santo Antônio.
Escondida pelo mato, numa parte alta do terreno, a igreja está desmoronando. Cacos de telha, tijolo e pedaços de parede estão espalhados pelo chão. O arco que divide a nave do altar-mor apresenta rachaduras. Rastros de cupim são vistos em toda parte. “O prédio só está de pé porque igreja ninguém derruba”, crê o agricultor Antônio Gomes de Souza.
Ele trabalhou dez anos no Pindobal, cortando cana para a usina que comprou o engenho. A casa-grande, diz o agricultor, foi destruída há cerca de sete anos. “Empurraram com máquina. Era uma casa bonita demais, de primeiro andar, com piso de tábua. Não sobrou nada, agora é tudo plantação de cana. Vinha muita gente olhar e fotografar o casarão.”
Antônio Gomes conta que costumava frequentar as atividades religiosas na capela. “Vim a muito terço aqui. Veja essas colunas, que boniteza. Olhe os tijolos manuais. Está vendo o barro que usavam para juntar os tijolos e formar a parede? Isso era para ser muito bem zelado”, lamenta o agricultor, que acompanhou a equipe do JC no local.
Era uma casa bonita demais, de primeiro andar, com piso de tábua. Não sobrou nada, agora é tudo plantação de cana. Vinha muita gente olhar e fotografar o casarão
agricultor Antônio Gomes de Souza
O professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Antônio Torres Montenegro resgatou relatórios policiais dos anos 60 que narram conflitos agrários em Pindobal e Malemba, em Paudalho. Camponeses lutavam por melhores condições de trabalho e investigadores vasculhavam engenhos à procura de quem aderia às mobilizações.
Feliciano Inácio da Silva, morador de Pindobal, foi identificado pela polícia como o líder da Liga Camponesa no município. O relatório descreve duas tentativas de prisão de Feliciano, sem sucesso, diz Antônio Torres Montenegro no artigo As Ligas Camponesas e os conflitos no campo, publicado na revista de história Saeculum (João Pessoa/2008).
Pindobal produzia açúcar bruto, mel e aguardente, informa Antônio Gomes, que vive num loteamento, em Paudalho, onde planta cana e macaxeira. Ele também destaca o desaparecimento da casa-grande do Engenho Caraúbas, localizado no mesmo município.
PRESERVAÇÃO - Assim como aconteceu com Pindobal, sobrou somente a capela do Engenho Caraúbas, perdida no meio do canavial. Destelhada, sem portas e janelas, desprovida da cruz da fachada e das imagens de santos, a igreja está tomada pelo mato. Debaixo de galhos de árvores e das telhas quebradas (o teto desabou), aparecem trechos do piso de ladrilho hidráulico. As paredes estão rachadas.
A capela tinha um alpendre coberto na fachada principal. Mas da estrutura só ficaram o muro e o piso, ocultos pelo mato. Sem uso e sem manutenção, o telhado de três águas e suas colunas de sustentação ruíram.
Quando publicou o livro Engenho & arquitetura (Fundação Gilberto Freyre), em 1997, resultado da tese de doutorado defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o arquiteto Geraldo Gomes registrou duas igrejas de engenhos de açúcar com essas características, em Pernambuco: Caraúbas e Garapu, no Cabo de Santo Agostinho.
“A casa-grande de Caraúbas não foi derrubada, caiu aos poucos”, afirma o agricultor Antônio Gomes. No livro, Geraldo Gomes, professor aposentado da UFPE, define a casa como uma construção de dois pavimentos – o térreo menor que o andar superior – e com escadas externas conduzindo a um alpendre.
Em 2002, ao elaborar a proposta do Plano Diretor de Paudalho, os arquitetos Geraldo Marinho e Milton Botler indicavam áreas que deveriam ser preservadas no município. Os conjuntos históricos de Caraúbas e Pindobal faziam parte da lista. “Nos guiamos por estudos da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) e pelo livro de Geraldo Gomes. Também fizemos levantamento na área”, diz Geraldo Marinho.