Cavalos e burros usando o espaço como se fosse um pasto. Banheiros improvisados com lonas ou plásticos para os frequentadores dos bares. Garagem com direito à coberta e cercado de madeira. Motos e carros estacionados em cima da grama. Varais com roupas penduradas e carroças enfileiradas. Esse é o cenário das margens do Canal do Arruda, que passa por sete bairros da Zona Norte do Recife: Tamarineira, Mangabeira, Hipódromo, Campo Grande, Arruda, Ponto de Parada e Peixinhos. A promessa da Prefeitura do Recife era que as obras de requalificação e urbanização do canal começariam em meados de abril. Mas somente esta semana o trabalho teve início.
Segundo o diretor de engenharia da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Vicente Perrusi, foram necessárias adequações ao plano de trabalho, por isso o atraso no início da obra. "A ordem de serviço foi assinada semana passada. O consórcio responsável pelo serviço, formado por quatro empresas, já começou a dragagem e limpeza de alguns trechos do canal", afirma Perrusi. Haverá intervenção no trecho de 3,8 quilômetros entre a Avenida Norte e o Rio Beberibe, com dragagem e revestimento de canais, implantação de calçadas e ciclovia, áreas de lazer e esportes, pavimentação, arborização, parque infantil e iluminação.
O serviço, orçado em R$ 83,1 milhões, foi dividido em duas partes. A primeira, da Avenida Norte até a Rua Petronilo Botelho, vai custar R$ 29 milhões, dos quais R$ 26 milhões com recurso estadual (oriundo do Fundo Especial dos Municípios, repassado pela União) e R$ 3 milhões do município. O trecho é de 2,7 quilômetros. "Como nessa parte o canal já está revestido, será realizada a recuperação de algumas placas, urbanização das margens, com passeios e ciclovias e implantação de quatro polos de convivência. A previsão é de seis meses para ficar pronto", explica o gerente da URB. Se o prazo for cumprido, no fim deste ano ou no início de 2015 haverá inauguração.
"Nasci e me criei no Arruda. Duvido muito ver esse canal organizado. Talvez meus netos aproveitem isso. Minha mãe morreu sem que fosse realizado nada. É só promessa", diz Severino Teles, 41 anos. Ele reclama do volume de lixo na beira do canal e reconhece que o problema é em parte dos moradores. "Tem gente que joga até animal morto no canal, é um absurdo. O pior é que a gente sofre com muita muriçoca", reclama Severino. Vizinho dele, Lourivaldo Soares Roberto, 36, dono de um bar, coloca um pedaço de lona na margem do canal, para uso dos clientes. É lá que urinam. "Só faço isso no fim de semana. As mulheres vão no banheiro de casa", explica Lourivaldo.
A segunda fase, orçada em R$ 54 milhões, é a mais demorada, 15 meses de prazo para término. Contempla o trecho da Rua Petronilo Botelho até o Rio Beberibe (1,2 quilômetro). "Nesse trecho será feito o revestimento do canal, além da urbanização das margens. Dragagem, escavação hidráulica e retirada do solo mole são algumas das etapas. Por isso o tempo de obra é maior", justifica Perrusi. Outubro de 2015 é a expectativa para concluir a intervenção.