Há 45 anos, em 8 de agosto de 1969, os Beatles tiraram a eternizada foto de seu álbum atravessando a faixa de pedestres da Rua Abbey Road, em Londres. Com grande influência nas revoluções sociais e culturais da época, os garotos de Liverpool acabaram dando o mote para uma reflexão que passou a marcar a data, firmada como o Dia Mundial do Pedestre, comemorado nesta sexta-feira. Quase meio século depois, o tema não poderia ser mais atual no Recife, onde uma simples caminhada se torna uma verdadeira via-crúcis.
Que o diga quem transita pela Rua do Hospício, na Boa Vista, Centro. Apontada em 2012 como a via com as piores calçadas do Recife (a quarta pior capital em desempenho de calçadas entre 12 pesquisadas no País), ela continua a mesma. A esquina com a Rua do Riachuelo é uma síntese dos problemas: há enormes buracos no piso, ambulantes dos mais variados, lixo e até orelhão instalado próximo a um poste de energia, dificultando a passagem. Poucos metros depois, tapume e contêiner dão suporte a uma obra, reduzindo ainda mais o espaço do passeio. Usuários esperam o ônibus na pista. Outros caminham por ela.
“Moramos em Casa Amarela, perto do mercado público, que ficou bem melhor depois que a prefeitura recuperou as calçadas e tirou os ambulantes. Seria bom se fizessem o mesmo no Centro”, afirmou a caixa Micelânia Costa, que estava com o marido e a filha de nove meses na Rua do Hospício. “Acabamos de vir da Conde da Boa Vista onde um caminhão passou por cima da calçada porque o espaço da rua era pequeno, um perigo.”
A reportagem segue pela Conde da Boa Vista. Uma moto é flagrada trafegando pela calçada. Buracos. Ambulantes. Quiosques concretados ao chão. Grandes abrigos de ônibus encurtando o passeio. Lixo. Um aglomerado próximo à Rua da Aurora chama a atenção. Uma mulher acabara de ser atropelada por um ônibus BRT quando, segundo testemunhas, tentava atravessar por um espaço aberto no gradil que separa as pistas. Por sorte, tem ferimentos leves. “Isso aqui é um matadouro, grita uma passageira. “Ela estava errada, mas errou também quem implantou essa estrutura que não deixa espaço nem pra esperar o ônibus”, retruca outra.
A imprudência de pedestres era visível. Passando em sinal fechado, se espremendo entre carros em movimento, atravessando fora da faixa. Infrações “incentivadas” em trecho da Avenida Dantas Barreto próximo ao pátio da Basílica do Carmo, onde obras na calçada e no canteiro central levam pessoas a caminhar pelas pistas. “É tudo tão desorganizado que a gente se acostuma com a bagunça e faz besteira também”, tentou justificar uma pedestre que atravessava em local indevido e preferiu não se identificar.
O costume muitas vezes não sai impune. Em 2013, o Recife registrou 405 atropelamentos na cidade, 35 a mais que no ano anterior, quando foram contabilizados 370, segundo a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
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