Helton Pimentel tem 23 anos, mas nunca recebeu uma carta em casa. Os vizinhos também não têm esse “privilégio”. Eles moram no Loteamento Canoas, em Ipojuca, Região Metropolitana do Recife, e não recebem correspondências porque suas casas não possuem código de endereçamento postal (CEP). Muitos nem sabem o nome correto da rua em que moram, já que alguns logradouros são conhecidos de maneiras diferentes. A Travessa João Rufino, por exemplo, também é chamada de Rua 30. O problema se repete em outros distritos do município, mas finalmente está prestes a mudar. É que, há um mês, a prefeitura lançou o programa Endereço Certo para mapear e identificar todas as ruas da cidade.
O levantamento começou a ser feito com auxílio dos próprios moradores e já está quase concluído. Apenas o Alto da Bela Vista ainda não foi mapeado. Mas, segundo a empresa Neo Sistema, que coordena o estudo, o trabalho de campo deve ser concluído ainda nesta semana. Até agora, 633 logradouros foram identificados em Nossa Senhora do Ó, Ipojuca Sede, Camela e na região das praias. No entanto, 193 dessas ruas têm problemas de identificação: 24 não têm nome, 75 possuem dois nomes e 94 são conhecidas apenas pelo nome popular. De acordo com os dados, sobram 440 ruas sem problemas de reconhecimento. Mas, segundo a prefeitura, só 148 delas são denominadas por lei.
Assim que for concluído, o levantamento será encaminhado à Câmara Municipal para que as outras ruas sejam batizadas oficialmente. Por enquanto, já são 148 logradouros à espera de uma identificação legal. De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Terezinha Uchoa, as leis devem legitimar os nomes já usados pela população. Mas, no caso das ruas que têm mais de uma denominação, os cidadãos serão orientados a utilizar o que for escolhido como oficial. Depois disso, o mapa da cidade será atualizado com a identificação oficial das ruas e cada residência vai ganhar o CEP.
PRAZO FINAL - A previsão é que todo o processo termine em abril do próximo ano. No mês seguinte, Helton Pimentel já poderá estrear a caixa dos correios de casa. Enquanto isso não acontece, o estudante usa o endereço da namorada para receber correspondências. Faturas de cartão, produtos comprados pela internet, documentos, tudo vai para a casa de Izabelle Alves, 21, que mora em Nossa Senhora do Ó. “Se não mandasse para lá, teria que ir até o centro de Ipojuca para pegar as cartas na agência dos Correios”, explica Helton. Mas nem assim ele tem certeza que as encomendas chegarão corretamente. É que a rua de Izabelle, a Segunda Travessa Mario Julio do Rego, também é chamada de Esconde Nego. “Este é o nome popular, mas aparece em algumas correspondências. Nossa conta de água usa esse endereço, já a de luz usa o oficial. É uma confusão. Já aconteceu de darmos o endereço oficial e ele não ser encontrado”, conta a estudante.
Muita gente usa a mesma tática de Helton para não ter o trabalho de ir até os Correios. Mesmo assim, cerca de quatro mil correspondências ficam à espera de seus destinatários na agência de Ipojuca todo mês. O autônomo José Souza, 48, por exemplo, tira a segunda via das contas na internet para não ter que ir à agência. José e Helton estão na torcida para que o projeto da prefeitura dê certo e as cartas finalmente comecem a chegar a casa. “Será muito bom, não vamos mais depender dos outros. Ainda poderei fazer compras pela internet e assinaturas de revistas”, diz o estudante.