Ele faz, sozinho e munido de uma pá e um carro de mão, aquilo que o poder público, com suas modernas máquinas, deveria fazer. Desempregado, Manoel Gomes da Silva, 42 anos, passa o dia tapando os enormes buracos da BR-101, no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife. O pagamento vem na forma das moedas que os motoristas jogam pelas janelas. É desse jeito que ele luta para sustentar a mulher e três filhos.
Manoel sai de casa, no bairro de Jardim Paulista, em Paulista, Região Metropolitana do Recife, às 4h. Anda uns seis quilômetros até chegar ao trecho crítico da rodovia, alguns metros depois da distribuidora Brasil Kirin, na Guabiraba. Às 6h começa a tirar terra da barreira que fica no acostamento para jogar no buraco que toma toda a pista esquerda, no sentido Recife.
O perigo é iminente. Os veículos passam em grande velocidade pela pista da esquerda e Manoel, por motivos óbvios, não tem qualquer equipamento de sinalização e proteção. Atravessar a rodovia para pegar areia leva tempo, por conta do tráfego pesado. Mas quando veem que ele está ali, sozinho e desprotegido, para tapar os buracos, os motoristas reduzem a velocidade, buzinam e, agradecidos, jogam moedas.
Por volta das 10h de quarta-feira, esgotado, com fome e com sede, e ainda precisando caminhar os seis quilômetros da volta, Manoel tinha arrecadado R$ 32, que guardou num velho saco plástico. Era com aquele dinheiro que ele voltaria para casa para comprar, nas palavras dele, “o que estivesse faltando”.
Manoel deixa claro que não tapa buracos por vocação ou porque vê a perspectiva de ganhar algum dinheiro que o sustente. “É porque não aparece nada, moço. Eu deixo currículo em posto de gasolina para trabalhar de vigia, em prédio para ser porteiro, em vários outros lugares, mas até agora nada”, diz, sem esconder a emoção. Vez por outra é chamado para descarregar caminhões com mil sacos de cimento – que pesam 50 kg cada um – por meros R$ 70. “Mas nem isso tem aparecido mais”, lamenta.
Quando é perguntado sobre o apelo que faria a qualquer governante que aparecesse à sua frente, ele não responde. O homem forte, acostumado a trabalho pesado, de repente desaba no choro por alguns segundos para depois, enxugando os olhos com a camisa, dizer: “Só um emprego. Não é muita coisa para muita gente, mas é para mim. Um emprego para um pai de família. Ficar desse jeito é humilhante demais”. Talvez o tão sonhado emprego chegasse até mesmo numa obra onde ele pudesse tapar buracos de outra forma: fardado, protegido por cones e com um salário no fim do mês.