Festa do Morro

Santuário será oficialmente reconhecido em 2015

A previsão é da Arquidiocese de Olinda e Recife, que criará nova paróquia

Veronica Almeida
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Veronica Almeida
Publicado em 07/12/2014 às 0:52
Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem
A previsão é da Arquidiocese de Olinda e Recife, que criará nova paróquia - FOTO: Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem
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Destino de romarias há 110 anos, desde a chegada da gigantesca imagem de Nossa Senhora, o Morro da Conceição, na Zona Norte da capital, deve ser proclamado santuário diocesano em 2015. É a intenção do arcebispo de Olinda e Recife, dom Antônio Fernando Saburido. Para isso, terá que vencer a burocracia da própria igreja e apressar a criação de uma nova paróquia, a de São José, com sede em construção no Alto José Bonifácio, que cuidará de quatro comunidades hoje dependentes do Morro. 

Quando a mudança acontecer, o Morro deixará de ser paróquia para se transformar não só num lugar de peregrinação e oração, mas num grande centro de formação religiosa, comandado por um reitor e talvez por mais um sacerdote, que lá estarão permanentemente. A pretensão de dom Fernando é a implantação de um núcleo especializado em Mariologia, de estudos teológicos sobre a mãe de Jesus.

Nos anos de ditadura militar o alto mais famoso do Recife foi berço da evangelização baseada na Teologia da Libertação, liderada pelo arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Camara, falecido em 1999. Fez brotar movimentos populares por melhor moradia e direitos sociais na época da redemocratização e assistiu, entre as décadas de 1980 e 1990, à disputa entre as alas progressista e conservadora do comando local da Igreja Católica. Nas últimas décadas viveu momento de neutralidade, mas sem perder a sua condição de um lugar de encontro dos fiéis com a sua santa protetora. 

O reconhecimento agora como santuário e o surgimento de uma nova paróquia podem também sinalizar a retomada num território que facilmente foi cedendo espaço ao crescimento dos cultos evangélicos. O arcebispo, por sua vez, não alimenta interesse em estabelecer concorrência. “Muitos grupos evangélicos participam conosco do ecumenismo”, lembra. Diz que o objetivo é cumprir a missão de evangelizar e reconhecer de direito o que já existe de fato como local sagrado. O Morro da Conceição será o segundo santuário da Arquidiocese de Olinda e Recife. O primeiro, proclamado na gestão do atual arcebispo, foi o de Nossa Senhora de Fátima, na Soledade (Colégio Nóbrega). Dom Fernando também deseja reconhecer de forma semelhante a Igreja dos Montes dos Guararapes, de Nossa Senhora da Piedade, em Jaboatão.

A proclamação de um santuário exige coleta de documentos e criação de um estatuto. No caso do Morro também deve ser aguardada a conclusão da Matriz de São José, que começou a ser construída no Alto José Bonifácio, numa área de 1.400 metros quadrados, onde existia uma pequena capela. 

Segundo o pároco do Morro, José Roberto de França, falta concluir 40% dos trabalhos de edificação. O prédio foi projetado por um padre arquiteto, Silvano Onofre.

O morro que está em festa desde o sábado (29) celebra  nesta segunda (8 de dezembro) o  dia da Imaculada Conceição. A condição de paróquia foi conquistada em 1975. A atração dos fiéis começou bem mais cedo, 71 anos antes, quando as ruas eram de barro, a luz vinha dos candeeiros a gás e a água, do Rio Beberibe. A fama sagrada e a organização do povo, estimulada pela igreja, bem que ajudou a desenvolver o lugar, hoje habitado por mais de 10 mil pessoas, em casas de mais de um pavimento. Agora é difícil encontrar um imóvel com a placa “vende-se”.

Moradora desde a década de 50, devota da santa que fez o milagre de devolver sua pequena Conceição levada por um estranho, Severina Paiva de Santana, 77 anos, reuniu num livro memórias da longa vivência. Em Aos Pés da Santa, conta a história da peregrinação e da comunidade.

“O monumento, trazido pelo primeiro arcebispo de Olinda e Recife, dom Luiz Raimundo da Silva Brito, celebrando os 50 anos do dogma da Imaculada Conceição, sempre foi daquela forma, mas antes era contornado por degraus. Havia um galpão onde as crianças tinham aula”, relata dona Sevi, saudosa dos maios animados, quando as celebrações marianas aconteciam na torre, ainda existente. Do ponto mais alto era possível avistar o mar e ver os navios, uma atração extra.


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