O casarão do século 19 onde funciona o Conselho Estadual de Cultura, no Centro do Recife, amanheceu com a fachada totalmente pichada no domingo passado, 29 de março. Letras, rabiscos, desenhos e palavras soltas cobrem parede, janela, porta, gradil, vidraça e a placa de identificação do imóvel, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1968.
Como não há expediente na instituição às segundas-feiras, somente na manhã desta terça-feira (31) integrantes do conselho descobriram o ato de vandalismo e acionaram a Secretaria estadual de Cultura. Técnicos da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) estiveram no local para avaliar os danos e definir os custos da nova pintura.
Além de limpar e pintar a fachada, a Secretaria de Cultura vai acionar a Polícia Civil para investigar o crime praticado contra o patrimônio histórico. Pichadores desenharam uma ave preta na parede do prédio e carimbaram ao lado o nome “armamento visual”, escreveram a palavra “maconha” perto do portão e grafaram as letras BDM e ENG na placa de sinalização.
Localizado na Avenida Oliveira Lima, no bairro da Soledade, o Conselho de Cultura fica a poucos metros de distância da sede da superintendência do Iphan. No último fim de semana de março, a área recebeu a sétima edição do Recifusion, o Festival Internacional de Graffiti, evento financiado com recursos públicos do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura).
O coordenador geral do Recifusion, Johny Cavalcanti, repudiou a pichação do prédio e disse que abriu um Boletim de Ocorrência na delegacia no domingo (29), o último dia do festival, logo depois de se deparar com a edificação danificada. “A ação não está ligada ao Recifusion. Os artistas convidados não fizeram isso. Infelizmente, pichadores que estavam na área do evento depredaram o imóvel”, declara.
Ele disse que além do Conselho de Cultura, outras edificações também foram atacadas pelos vândalos. Ele citou a casa de duas senhoras que atuam na Igreja da Soledade, a sede da Empresa de Urbanização do Recife (URB) e um escritório de contabilidade ao lado do Curso Nobre, no Beco do Estudante. “Limpamos alguns deles e estamos ajudando na limpeza de outros”, diz Johny.
Na casa de estilo arquitetônico neoclássico que abriga o Conselho de Cultura desde 1985 nasceu o professor, diplomata e escritor Manuel de Oliveira Lima, em 1867. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letra, Oliveira Lima morreu em 1928.
De acordo com Marcelino Granja, secretário estadual de Cultura, "a gestão cultural repudia a depredação deste importante patrimônio material do nosso Estado e vai tomar todas as providências no sentido de recuperar o prédio no menor espaço de tempo possível".
