O primeiro dia útil de funcionamento do Túnel da Abolição, na Madalena, Zona Oeste do Recife, não trouxe novidades para os motoristas. Como esperado, o trânsito fluiu de forma tranquila na Rua Real da Torre, o caminho de acesso à passagem subterrânea, na manhã de segunda-feira (13). E permanece congestionado na Avenida Caxangá. Surpresa mesmo quem teve foi o pedestre, com a sinalização precária das ruas e os arremedos de jardins no entorno do túnel; e a direção do Museu da Abolição, que perdeu um portão de acesso.
“Ficamos sem entrada. Botaram uma placa na Real da Torre indicando a faixa que leva ao prédio. Mas o motorista esbarra num muro fechado e terá de voltar de ré”, comenta Telma Maia, diretora substituta do museu. Segundo ela, desde o início da obra, em março de 2013, a diretoria do centro cultural pediu à Secretaria Estadual das Cidades, responsável pelo projeto, para abrir o novo portão antes de liberar o túnel ao tráfego. “Infelizmente, isso não aconteceu.”
Em reunião semana passada a secretaria informou ao museu que não há prazo para fazer o serviço. “A abertura do portão da Rua Real da Torre, a construção da guarita e a reforma do nosso anexo seriam a contrapartida do Estado pelo transtorno provocado pela obra. O governo não fez nenhuma das compensações prometidas”, ressalta Telma Maia. A visitação ao Casarão de João Alfredo, onde funciona o centro de memória afro-brasileira, caiu em mais de 40%, desde março de 2013.
De acordo com Telma, o acesso ao prédio, agora, é feito só pela Rua Benfica, mas os ônibus que trazem estudantes não conseguem manobrar e chegar ao estacionamento. Ela não esconde a decepção, também, com a praça sobre o túnel, bem ao lado do Museu da Abolição. “A pracinha não tem nada a ver com o projeto que nos mostraram. As plantas que cresceram nas jardineiras sugiram espontaneamente, não houve arborização. Passarinhos ou o vento trouxeram as sementes”, acrescenta. Ontem pela manhã o piso não estava pronto e até lixo queimado podia ser visto no local.
“Deveriam ter limpado o mato, para a inauguração do túnel. Pelo menos a praça teria ficado mais bonitinha”, observa o aposentado Edmilson Manoel dos Santos. “Não sei a razão disso, pois a obra demorou bastante. Agora, vão passar mais tempo para fazer os jardins”, completa Edmilson. Moradores avisam que a praça está às escuras, à noite.
A área verde prevista para a Rua João Ivo da Silva (continuação da Real da Torre), no trecho onde a secretaria demoliu 17 imóveis para permitir a construção da passagem subterrânea, não passa de 11 plantas mirradas. “O trânsito de carros e ônibus melhorou na Real da Torre, mas o entorno não atende o pedestre. Não temos como atravessar as ruas com segurança, faltam faixas”, avalia a atendente Silvânia Oliveira.
Embora a obra tenha se arrastado por dois anos e um mês, o governo não conseguiu cumprir as tarefas. A parada de ônibus dentro do túnel não está pronta. Falta o elevador para garantir a acessibilidade dos passageiros, na praça sobre a passagem subterrânea. Há poças de água nas laterais do túnel, com água minando pelas paredes, inclusive no ponto de ônibus.
Com sentido único de tráfego, da Real da Torre para a João Ivo da Silva, o túnel integra o Corredor Leste-Oeste, que faz a ligação entre o Derby, na área central do Recife, e a cidade de Camaragibe pelo Transporte Rápido por Ônibus (BRT, na sigla em inglês). A Secretaria das Cidades informa que as infiltrações estão sendo corrigidas com a impermeabilização do túnel, já em andamento. Diz, ainda, que até o fim de maio de 2015 todos os problemas e pendências estarão resolvidos.