Prestes a completar 40 anos, a maior catástrofe natural da história do Recife ainda é uma ilustre desconhecida das novas gerações. Nas redes sociais, a reação de muitos leitores à matéria sobre a cheia de 1975, publicada no domingo passado dentro da série sobre os arquivos do Instituto de Medicina Legal (IML), foi de surpresa. “Não sabia que isso tinha acontecido”, “Sempre ouvi meus pais e avós falarem, mas pela primeira vez estou vendo como foi”, foram apenas alguns dos comentários. A enchente provocou a morte de 104 pessoas e deixou cerca de 350 mil desalojados, cobrindo 80% do território da cidade.
Mesmo aqueles que sentiram na pele a devastação causada pelo transbordamento do Rio Capibaribe, nos dias 17 e 18 de julho de 1975, via de regra só têm histórias – tristes – para contar. São poucos os registros fotográficos e filmográficos. Não há, nos principais museus e centros de pesquisa do Recife, qualquer material organizado e catalogado sobre a enchente. Ao contrário de muitas cidades do mundo, que com monumentos e museus expurgam suas grandes tragédias, o Recife tratou de esquecer da cheia de 1975.
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PERDAS
O golpe na história e na memória das pessoas pode ter uma explicação: muitos perderam as fotografias de família e, entre outras coisas, as câmeras fotográficas necessárias para registrar a enchente. Além, claro, de estarem muito ocupados tentando sobreviver à hecatombe.
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“Não foram apenas as mortes e a destruição física da cidade: aquela cheia provocou perdas afetivas muito grandes. Histórias inteiras de vida em objetos, fotos, cartas e diários desapareceram”, diz o jornalista e escritor Homero Fonseca, autor do livro "Tapacurá, viagem ao planeta dos boatos", a mais conhecida obra a fazer referência ao período da enchente.
Assista ao vídeo gravado por Fernando de Oliveira, compositor de frevo e primo de Waldemar de Oliveira. Os registros foram feitos em Super 8. Um belo minidocumentário sobre a cheia.