Eles se conheceram há quatro anos. Em uma semana estavam namorando. Em três meses foram morar juntos. E neste sábado (23) estão oficializando a união. Futuramente, quando a situação financeira se estabilizar, planejam ter três filhos. O desfecho dessa história de amor – comum entre relações convencionais – é celebrado como uma conquista pelos estudantes Elton Passos, 28 anos, e Clayson Lenon, 23, e outros sete casais que participam do primeiro casamento coletivo homoafetivo, realizado pela Prefeitura do Recife. O evento acontece às 17h, no Forte das Cinco Pontas, no Centro da cidade.
Desde 14 de maio de 2013, com a Resolução nº 175 do Conselho Nacional de Justiça, todos os cartórios estão obrigados a realizar o casamento, bem como a conversão da união estável em casamento civil. “A perspectiva é tirar essas relações da clandestinidade e dar proteção de Estado e os direitos civis que o casamento garante, além do reconhecimento simbólico da união”, explicou o gerente de livre orientação sexual do Centro de Referência LGBT do Recife, Welington Pastor. A entidade é ligada à Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
As inscrições para a cerimônia foram feitas entre os meses de fevereiro e abril. “Ao todo, 15 casais se inscreveram, mas sete acabaram desistindo temendo a exposição. Acredito que na próxima edição o número de interessados vai ser bem maior”, salientou Welington. O medo do preconceito e da rejeição ficou claro, ontem, durante encontro dos casais. Muitos não quiseram aparecer alegando que poderia prejudicar as relações de trabalho.
Não foi o caso de Sandra Ferreira, 46, que lamentou estar sem a mulher, Driely de Lima, 29, para serem fotografadas juntas. “Estamos muito felizes com essa conquista. Já somos casadas há sete anos, mas agora vamos ter os mesmos direitos de qualquer casal”, comemorou. “Acabamos de comprar um apartamento. Se uma for embora, a outra está segura. É só o início, muita coisa ainda vai melhorar.”
As famílias de Sandra e Driely vão estar em peso no casório. A de Elton também, mas a de Clayson não assistirá à cerimônia. “Meus familiares ainda têm resistência a nossa união, mas isso está melhorando. A ausência deles não tira minha felicidade, mas faz falta”, declara, com a segurança de quem assumiu a homossexualidade aos 17 anos e sustenta desde então a liberdade de dizer a qualquer um que Elton é seu marido e não seu amigo. “Se todo mundo se assumir, o preconceito diminui”, complementa Elton, que hoje dá ao companheiro algo que só poderia com o casamento civil: seu sobrenome.