O busto do prático Nelcy da Silva Campos, responsável por evitar uma grande explosão que varreria do mapa parte da Zona Sul e do Centro do Recife em 1985, voltou a ser exposto. A peça de 80 centímetros e 70 quilos feita em mármore passou por uma reforma pelas mãos do artista que a executou, Demétrio Albuquerque, e foi reinaugurada na manhã de ontem no Terminal Marítimo de Passageiros. A solenidade contou com a presença de familiares, amigos, autoridades e apresentação da banda da Marinha. A estátua passou dois anos guardada por causa da reforma do porto e, enfim, voltou ao seu lugar, resgatando parte importante da história do Estado desconhecida por muitos.
O evento aconteceu 30 anos após o episódio que colocou parte da cidade em risco. Na madrugada do dia 12 de maio de 1985, o navio petroleiro Jatobá, que estava atracado no Porto do Recife e carregava 1.500 toneladas de gás butano, foi atingido por um incêndio provocado pela explosão de um dos três tanques de gás CLT a bordo. Uma nova explosão poderia atingir o Parque de Tancagem do Brum, localizado a 500 metros da área, onde estavam armazenados 150 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. O acidente destruiria tudo em um raio de cinco quilômetros, atingindo bairros como o do Recife, Santo Antônio, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina. O prático evitou a catástrofe, rebocando o petroleiro para alto-mar, onde as chamas se extinguiram sozinhas.
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Várias pessoas discursaram em homenagem ao herói, a exemplo de um dos filhos dele, Nelcy Campos. “Meu pai será reconhecido mais uma vez. O busto é muito importante, porque as novas gerações poderão saber um pouco mais sobre parte da história de Pernambuco.” O prático Roberto Abreu Lima, 63 anos, era colega do herói e relembra o ato de coragem. “Convivemos por 15 anos. Ele era expansivo, alegre, gostava muito de trabalhar e se voluntariou para tirar o navio do cais. Amarrou as cordas no Jatobá, com apoio de outros colegas, e o levou para o alto-mar. Estávamos muito apreensivos com a possibilidade de uma grande explosão acontecer”, relata.
O Porto do Recife está à procura de espaço para expor outras peças do acervo. Segundo o presidente Olavo de Andrade Lima, o projeto da criação de um museu está em análise. “Há dois meses, museólogos e arqueólogos fazem levantamento do nosso acervo, que compreende de documentos antigos a armazéns. Muitos objetos estão guardados, mas queremos deixá-los ao alcance do público. O porto foi e é muito importante para a cidade. Estamos analisando como faremos isso”, afirma.
Nelcy Campos trabalhou 25 anos como prático e morreu de uma doença crônica, dia 27 de setembro de 1990, aos 59 anos.