Você sabe identificar a arquitetura neoclássica em residências do Recife? Pois tome como exemplo o Teatro de Santa Isabel, com seus arcos, colunas e frontão triangular no topo da fachada, para encontrar as moradias construídas com esse mesmo padrão, no século 19. Uma delas, aliás, na Avenida Rui Barbosa, é quase uma cópia do teatro da Praça da República, no Centro da capital.
Com essa dica, é fácil localizar a casa neoclássica da Rui Barbosa, no bairro das Graças, em frente ao Colégio Vera Cruz. O sobrado de dois pavimentos perdeu o status de moradia e agora é um prédio público, mas mantém a nobreza das linhas arquitetônicas sóbrias, sem o excesso de curvas, laços, flores e folhagens típicas do rococó e sem os ornatos exagerados do barroco.
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Na arquitetura neoclássica predominam as formas geométricas e simétricas. “O frontão triangular é marcante, assim como as colunas gregas”, observa Fernando Diniz, professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco. “É um retorno ao estilo clássico”, acrescenta o arquiteto José Luiz Mota Menezes.
O movimento nasceu na Europa do século 18 e chegou ao Brasil em 1816 com a missão francesa, como ficou conhecido um grupo de artistas que desembarcou no Rio de Janeiro para ensinar artes plásticas, informa Fernando Diniz. “O Rio tem muito mais casas neoclássicas do que o Recife”, compara o arquiteto da UFPE. “Além de o período neoclássico ter sido curto, a nossa produção maior foi de prédios públicos.”
De acordo com José Luiz, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, o Recife tornou-se neoclássico de 1830 a 1870. Nesse intervalo de 40 anos a cidade ganhou edificações e viu imóveis já existentes serem reformados para adaptar as fachadas aos novos padrões, como o Sobrado da Madalena, onde funciona o Museu da Abolição.
“É uma mudança apoiada nos ideais da Revolução Francesa, que resgata o direito do cidadão à cidade”, explica José Luiz. As residências neoclássicas, diz ele, quase sempre tinham mais de um pavimento, símbolo de moradia de gente nobre. Era o endereço de comerciantes abastados e senhores de engenho que viviam na cidade onde proliferavam fundições (fabricação de peças de ferro) e estabelecimentos para produção de couro de boi.
CASARÕES
Essa classe rica levou a linguagem neoclássica para as moradias, destaca José Luiz. E cita como exemplo clássico o Solar do Barão Rodrigues Mendes, atual sede da Academia Pernambucana de Letras, na Avenida Rui Barbosa. Diferentemente da arquitetura colonial, marcada pelas casas conjugadas como se vê na Cidade Alta de Olinda, as construções neoclássicas são mais isoladas no terreno, informa Fernando Diniz.
O estilo arquitetônico sóbrio também influenciou casarões da Rua Benfica, na Madalena, com fachadas voltadas para o Rio Capibaribe e um cais em cada quintal, continua José Luiz. Outra característica do período, diz Fernando, é aquela mureta para cobrir o telhado (platibanda), no alto da fachada, que também serve como suporte para estátuas e jarros decorativos.
Eles apontam o Teatro de Santa Isabel, projetado pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier (1815-1901) e inaugurado em 1850, o Ginásio Pernambucano da Rua da Aurora e o Hospital Pedro II, no bairro dos Coelhos, todos no Centro da capital pernambucana, como representantes da arquitetura neoclássica em prédios públicos.