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Projeto de embutir fiação nas ruas do Recife fica só no papel

As 16 ruas do Centro que seriam contempladas inicialmente, em projeto de agosto do ano passado, seguem no improviso. Festival de fios e gambiarras dá o tom dos passeios públicos

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 02/07/2015 às 7:07
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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O texto da Lei Municipal 17.984, sancionada em janeiro de 2014 pelo prefeito Geraldo Julio (PSB), não poderia ser mais claro. “Ficam as empresas públicas e privadas, concessionárias de serviços públicos e prestadores de serviço que operam com cabeamento elétrico, de telecomunicações ou assemelhados, na cidade do Recife (PE), obrigadas a embutir no subsolo todo o cabeamento ora existente”. O anúncio, pela própria prefeitura, de que o embutimento começaria por 16 ruas do Centro, até o fim do ano passado, também foi eloquente. Mas, entre os dois discursos, a realidade: o festival de fios e gambiarras ainda dá o tom dos passeios públicos da cidade. E o improviso continua fazendo vítimas, como o bombeiro civil Anderson José Ferreira da Silva, 22 anos, morto ao pisar em um cabo solto de um poste, na noite do último domingo, no bairro de Santo Amaro, área central.

Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Projeto para embutir fiação no Recife fica no papel - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Projeto para embutir fiação no Recife fica no papel - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Projeto para embutir fiação no Recife fica no papel - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Em projeto de agosto do ano passado, a mudança da fiação para o subsolo contemplava 16 ruas do Centro, a um custo de R$ 4 milhões. Seria feita com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Vias como as Ruas do Imperador, Direita, 1º de Março, Calçadas, Santa Rita, Vidal de Negreiros e Avenida Nossa Senhora do Carmo, em Santo Antônio e São José, deveriam estar com o cabeamento soterrado ou, pelo menos, em obras.

Em vez disso, a fiação continua dando dor de cabeça a pedestres e comerciantes do local. “Isso aqui é uma mistura de fios de energia, telefone, internet e TV a cabo. Quando chove, não funciona nada. Sem contar que é muito feio e perigoso”, diz o comerciante Francisco Dias, apontando para uma gambiarra em plena Rua do Imperador.

Na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio, os fios ficam amarrados a postes descascados, ou seja, entram em contato com os vergalhões de aço. Na Rua das Calçadas, no bairro de São José, um dos principais centros de comércio popular da cidade, há um festival de fios sobre a cabeça dos pedestres.

Saindo da área de abrangência do projeto piloto da prefeitura, quase nada muda. Na Rua Setúbal, em Boa Viagem, Zona Sul da cidade, a poucos metros de onde morreu o advogado e músico Davi Santiago, em junho de 2013, a fiação elétrica parece que vai cair a qualquer momento. “Não faz muito tempo um caminhão passou por aqui e derrubou parte desses fios. Foi um corre-corre, mas ninguém se machucou. A gente fica com medo, pois sempre vê gente morrendo por causa de choque”, conta o motorista Rinaldo Souza, que trabalha na área. 

O drama é o mesmo na Zona Norte. Até o final da manhã de ontem, na Avenida 17 de Agosto, em Parnamirim, entre as Ruas Virgínia Loreto e Dr. João Santos Filho, um fio ocupava parte da calçada, obrigando os pedestres a passarem com cuidado pelo local.

A assessoria de comunicação da Empresa de Urbanização da Prefeitura do Recife (URB) informou que a licitação para o embutimento da fiação nas ruas do Centro já foi concluída, e que a empresa vencedora terá três meses, a partir da assinatura da ordem de serviço, para entregar o projeto executivo. A ordem também não tem previsão para ser assinada. Ainda não há perspectiva de início das obras no restante da cidade, pois a lei que prevê a mudança na fiação em todo o município não foi regulamentada. Havia previsão para que o decreto que regulamenta a lei fosse entregue ao prefeito Geraldo Julio em setembro do ano passado. O documento estava sendo elaborado por um grupo de trabalho composto por profissionais da própria URB, na Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), do Instituto Pelópidas Silveira e da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da prefeitura.

Segundo o gerente de operações da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), Saulo Cabral, a empresa ainda não foi procurada pela prefeitura para tratar do cumprimento da lei 17.984. “Existem conversas para projetos pontuais, como o das ruas do Centro, além da Praça da República e do Recife Antigo. Até porque a operação de embutimento total da rede aérea do Recife séria jamais poderia ser feita de um dia para o outro, pois demanda planejamento e custos muito altos, que poderiam, inclusive, ser repassados para a tarifa. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, por exemplo, esse trabalho de embutimento é feito desde os anos 1920 e até hoje a cidade não tem 100% de fiação embaixo da terra”, explica Saulo Cabral.

A família do bombeiro civil Anderson José Ferreira da Silva, morto ao pisar em um fio nas proximidades do Shopping Tacaruna, em Santo Amaro, no último domingo, ainda não decidiu se vai entrar na Justiça contra a Celpe. A reportagem não conseguiu ontem falar com o advogado da família de Davi Santiago. O músico foi eletrocutado ao encostar em fiação solta na Avenida Visconde de Jequitinhonha. Em nota, a Celpe informou que, em 2014, registrou 16 ocorrências em via pública provocadas por interferências externas como ligações clandestinas, podas irregulares, construção civil e instalação de antenas próximo à rede elétrica.

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