Duas peças que não se encaixam naquele espaço. Esta é a sensação que se tem ao se observar as duas estações do Corredor Norte-Sul inauguradas anteontem na Avenida Cruz Cabugá, um dos principais eixos de ligação da Zona Norte com o Centro do Recife. Enquanto as estações e os BRTs (ônibus de trânsito rápido) oferecem uma ideia de conforto e modernidade, a realidade no entorno é de total falta de estrutura para mobilidade, trazendo, inclusive, insegurança para pedestres e motoristas.
A Estação Araripina apresenta a situação mais crítica. Construída fora do centro da via, utilizou-se uma solução caseira para manter os veículos em seu devido fluxo: picolés (um equipamento de proteção de obra feito com pneu concretado e uma viga de ferro) direcionam a circulação. Funcionário da construtora responsável salienta que a medida é provisória. Detalhe: a solução definitiva, segundo ele, virá com a implantação dos velhos gelos-baianos que o município há anos promete dar fim.
Para estacionar na parada, no sentido Centro, os BRTs são obrigados a driblar os picolés, os tachões deixados nas divisórias de pista, buracos no asfalto e os gelos-baianos que demarcam o final da bainha (espaço para parada dos ônibus). No outro sentido, os pedestres caminham na rua, pois na “pressa” para inaugurar a estação a calçada ficou para depois e só ontem começou a ser construída. Na pequena área concretada, uma tampa de esgoto quebrada e inclinada para cima traz mais riscos. E no terreno ao lado de onde será o passeio – desapropriado para alargar a avenida – metralhas e mato marcam presença.
“Está muito ruim para atravessar porque não temos calçada”, reclama a operadora de call center Kalyne Rayssa, 20 anos. Muitos pedestres disseram que o espaço da calçada estava tomado por veículos da construtora. “Ontem (quarta-feira) só dava para andar na rua, é um risco. Por que não fizeram essa calçada antes?”, questiona a vendedora Ana Lúcia, 38.
Na estação IEP, em frente à Assembleia de Deus, a antiga calçada também não foi reformada e mantém o rotineiro cenário de buracos e obstáculos. Lá também o equipamento parece tão mal encaixado no ambiente que precisa ser delimitado por pirulitos e gelos-baianos.
Procurada, a assessoria da Secretaria das Cidades respondeu, três horas depois de acionada, que o gerente da área não poderia falar porque entraria em reunião. Por meio de nota, informou que “a prioridade foi colocar as estações Araripina e IEP em funcionamento para atender aos usuários do meio de transporte o mais rápido possível. Isso procurando proporcionar que o serviço seja ofertado de forma segura”. Assegurou que “as pendências com relação à obra serão solucionadas” e que a instabilidade das condições climáticas atrapalhou a conclusão de um serviço.
A obra começou em janeiro de 2012 e deveria ser inaugurado para a Copa do Mundo de 2014. São 33,3 quilômetros entre Igarassu e o Centro do Recife, com 28 estações, (cinco na Cruz Cabugá) mas apenas 22 estão em funcionamento. O investimento é de R$ 151 milhões.