Abuso

Flanelinhas continuam ditando regras de estacionamento no Recife Antigo

Seis meses após cadastramento feito pela prefeitura do Recife, as reclamações dos clientes são as mesmas

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 22/07/2015 às 6:16
Fernando da Hora/JC Imagem
Seis meses após cadastramento feito pela prefeitura do Recife, as reclamações dos clientes são as mesmas - FOTO: Fernando da Hora/JC Imagem
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“A senhora volta outra dia para fazer a reportagem que hoje o expediente acabou”. A “ordem”, dada por um flanelinha da Rua da Moeda, no Recife Antigo, no Centro, tentava intimidar a repórter durante entrevista a um colega de trabalho que discutia com outro, no local. A postura agressiva do guardador de carros, que não usava crachá, o desentendimento entre os trabalhadores e o relato de motoristas abordados não deixam dúvidas: os estacionamentos no Bairro do Recife continuam terra de ninguém. Seis meses depois de implantado o projeto piloto para cadastramento dos 135 flanelinhas da área, nada mudou.

Com 57 anos, 13 trabalhando na Rua da Moeda, segundo diz, o guardador José Carlos Trajano (único visto pela reportagem usando o crachá de credenciamento) retrata bem a situação. “Tem muita gente invadindo a área do outro, colocando carro enviesado para guardar vaga, sem o crachá e dirigindo sem carteira de habilitação, uma bagunça”, denunciou, aos gritos, sob protesto de colegas.

Questionado sobre o que falta para a situação se regularizar, ele não titubeou e respondeu, irritado: “Falta quem mande. Quem organize, bote as coisas no lugar. Os fiscais da prefeitura passam por aqui, mas nunca param para ver quem está certo e dar jeito nisso. Vai acabar acontecendo uma desgraça.” Outros se queixaram de pessoas sem credenciamento estarem atuando na Rua Madre de Deus.

Na Rua Vigário Tenório, o JC flagrou um motorista tentando usar seu próprio bilhete de Zona Azul, sob insistência de um flanelinha para que lhe desse um dinheiro a mais. “Ele alegou que a área era dele, então dei R$ 0,50 por conta da insegurança de não saber como o carro vai estar quando eu voltar”, contou, inconformado, o comerciante Roosevelt Siqueira, 48. A reportagem tentou falar com o guardador em questão, mas ele saiu correndo.

Outros três flanelinhas da área também saíram correndo ao ver a reportagem. Um deles conversou sem se identificar. “Ninguém usa crachá aqui, eles são muito grandes e enferrujaram logo com a maresia, sujam a roupa, então eu guardo e se o fiscal chegar eu mostro, sempre foi assim”, disse. Depois de insistir pro colega não falar com a repórter, um outro voltou. Questionado sobre os motivos que o levaram a correr, uma vez que ele era um guardador credenciado, o rapaz respondeu com um sorriso irônico: “Esse negócio de foto... mas a gente trabalha tudo direito por aqui, não tem ninguém errado”.

Não é o que dizem os clientes. “Na semana passada depois que estacionei e peguei um bilhete Zona Azul com o flanelinha ele me cobrou R$ 4”, relata a médica Maria Lúcia, 46. “Também é comum ver guardadores visivelmente embriagados. Difícil é encontrar um com o crachá para que possamos identificar quem pratica abusos.”

MUDANÇAS

“Não fizemos uma fiscalização à altura do programado”, reconhece o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, diante da situação verificada no Recife Antigo. Segundo ele, a equipe responsável pelo serviço foi substituída e ainda este mês haverá um reforço no controle dos flanelinhas, bem como na colocação de faixas informativas sobre o pagamento aos guardadores ser facultativo. 

Conforme o secretário, no início da implantação do projeto houve um resultado muito bom, pois a fiscalização era intensa. “O controle urbano tem que ser diário e contínuo, é muito difícil de manter, mas o modelo de cadastramento é bom, vamos tratar os problemas”, afirma. 

Apesar das falhas, o gestor salienta vir recebendo um número de reclamações bem menor sobre os flanelinhas, via telefone, e-mail e redes sociais. “Não tenho números, mas percebo uma redução significativa. Agora, a população precisa denunciar quando há alguma ocorrência”, salienta.

Segundo Braga, só quando forem corrigidos os problemas no Recife Antigo o cadastramento poderá ser estendido a outras áreas da cidade. “Mas isso também está associado à questão do estacionamento Zona Azul, que estamos reavaliando. Em breve definiremos isso”, adianta. 

Atualmente existem cerca de 2,5 mil vagas de Zona Azul no Recife. Uma média de 20 mil talões com dez folhas é vendida mensalmente, a R$ 1 a folha. Há anos se avalia mudanças nesse modelo de estacionamento rotativo da cidade. Uma das possibilidades é que ele venha a ser explorado por meio de concessão pública.

 

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