Que o Teatro do Parque, na Rua do Hospício, Centro do Recife, completaria cem anos de fundação em 24 de agosto próximo de portas fechadas para o público, era de se esperar. Afinal, a restauração do prédio, iniciada em janeiro de 2015, se prolongaria até novembro de 2016. A população não contava era com a paralisação da obra, o que deverá atrasar mais ainda a reabertura do teatro.
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O serviço foi suspenso um mês atrás. Ficou no prédio só o vigia, para impedir invasões. O único sinal da obra é uma placa enorme na fachada do teatro, informando as ações que deveriam estar sendo realizadas. O portão fechado por corrente e cadeado, sem o entra e sai de operários, é outro indício da paralisação.
“É absurdo o teatro fazer cem anos numa situação dessa”, declara o ator Cleusson Vieira. “Quando iniciaram a obra, fiquei feliz e acreditei que o prédio seria mesmo recuperado. Se não retomarem logo, o trabalho feito nesses seis meses vai se acabar e aí tudo começa do zero, isso é complicado”, alerta o artista.
O prédio está fechado desde 2010, mas só em dezembro de 2014 a prefeitura autorizou a obra de recuperação. Inicialmente avaliado em R$ 8,2 milhões, o valor chegará a pouco mais de R$ 10 milhões com a compra de equipamentos e melhoria na boca de cena, de acordo com o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha.
Ele diz que a restauração do teatro começou com recursos próprios, mas a intenção da prefeitura é tentar captar verbas com outros parceiros. Diego Rocha nega a paralisação dos serviços, apesar da ausência de operários e do cadeado lacrando o portão. “A obra está em execução, mas algumas atividades são realizadas em outros locais”, afirma, citando a recuperação de móveis.
Fontes consultadas pelo garantem que nenhuma intervenção está acontecendo nem no prédio nem fora dele, há um mês. O teatro, de estilo arquitetônico art-noveau (o painel na fachada com o nome Parque em meio a desenhos florais é bem característico), foi construído pelo comendador Bento Aguiar, um comerciante português, e inaugurado na noite de 24 de agosto de 1915.
EDUCAÇÃO
“Se há uma crise no País, a primeira verba a ser cortada é a da cultura. Sempre é assim. As pessoas não entendem que equipamentos culturais são fundamentais na organização social, ajudam a educar o povo e a reduzir os índices de violência”, lamenta o músico Roberto Santana.
Garçom de um dos restaurantes da Rua do Hospício, Antônio Argemiro de Araújo acrescenta que a via ficaria mais movimentada com o teatro funcionando. “Trabalho aqui há três anos. Quando cheguei o edifício estava desativado, só tinha gato morando no prédio. Não deveriam demorar tanto assim para abrir novamente”, destaca Argemiro.
O presidente da Fundação de Cultura informa que a obra contempla a restauração completa do imóvel, devolvendo ao teatro a feição de 1929. “A cara atual do cine-teatro tem origem numa reforma feita naquele ano”, justifica Diego Rocha. O projeto prevê acessibilidade, climatização, paisagismo e novos equipamentos.