É com cuidado que os funcionários cobrem os pisos e guardam os móveis da sede da Academia Pernambucana de Letras (APL), nas Graças, Zona Norte do Recife. São os preparativos para o início da fase de conservação do edifício neoclássico do século 19. As obras nas fachadas, esquadrilhas, estucaria, forros e azulejos começam em 15 dias e prometem dar nova vida ao sobrado, que apresenta problemas, como infiltrações e fissuras, e corre o risco de ruir. O sentimento é de alívio ao ver a ação tomar forma com verba no valor de R$ 2,5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), aportados por meio da Lei Rouanet, após dois anos de espera. Os recursos vão ser liberados ao longo dos 14 meses de duração das intervenções. A primeira já foi liberada recentemente.
O projeto, apresentado há dois anos, inclui a fase de conservação e a implantação de um projeto museográfico no bloco principal. Durante este tempo, não haverá visitação, apenas reuniões ordinárias. A única vez em que o espaço passou por reforma foi na década de 1970. Eventos culturais realizados no auditório, a exemplo do sarau da juventude, que ocorre no primeiro domingo de cada mês, vão ser mantidos. “Nossa maior preocupação é não descaracterizar a construção. Este edifício é um excelente representante do estilo clássico imperial, que possui um rigor técnico construtivo importantíssimo para a arquitetura pernambucana. A fase de conservação deve durar 10 meses e está orçada em R$ 1,8 milhão”, afirma o arquiteto Jorge Passos.
O casarão pertenceu ao barão Rodrigo Mendes, comerciante português. Ele fez adaptações e valorizou o prédio, decorando com azulejos e pisos de mosaico inglês. Atualmente, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan). Ao fim das intervenções, ganhará o status de casa-museu. Com a reabertura, o público poderá conhecer melhor a história e a importância da sede da academia. “A exposição ocorre de forma amadora atualmente. O projeto museográfico e museológico consiste na elaboração de um roteiro e apresentação lógica para o visitante. Ele vai sair mais rico daqui”, garante Jorge Passos.
Para a presidente da APL, a escritora Fátima Quintas, a liberação dos recursos é uma grande conquista. “Recebemos a notícia com imensa alegria. Foi um processo lento que durou dois anos. O prédio corre o risco de desabar e está feio, sem pintura. Dá uma tristeza no coração ver o local nesse estado, mas não queria pintar e esconder a realidade. Tinha muita esperança de que o patrocínio seria aprovado”, relata. Até o fim deste ano, está prevista a abertura de parte da biblioteca da APL, com mais de 30 mil livros reunidos ao longo de 114 anos de existência da instituição, para o público. Foi assinado um convênio com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe ) para dar início aos trabalhos.