Onde está o projeto de ciclovia para a Avenida Caxangá? Pelo que se viu, nesta quarta (23), na audiência pública sobre o Plano Diretor Cicloviário (PDC), nem o governo do Estado nem a Prefeitura do Recife sabem, pois um jogou para o outro a posse do documento. A fim de acompanhar o andamento desse projeto e de todas as ações previstas no PDC, ficou definido no encontro – que reuniu cicloativistas e gestores públicos, na Assembleia Legislativa (Alepe), das 9h às 13h30 – o encaminhamento de proposta ao Estado para criação de um Grupo de Trabalho, com participação da sociedade civil.
“O manual de BRT obriga a construção de ciclovias onde o corredor for implantado e isso não aconteceu na Avenida Caxangá, embora por lá circulem mais de 3 mil ciclistas – na Avenida Paulista, em São Paulo, são dois mil”, protestou o representante da Associação Metropolitana de Ciclistas (Ameciclo), Guilherme Jordão. “Se a ciclovia da Caxangá não sair não acredito mais no PDC”, desabafou Cézar Martins, coordenador da entidade.
O diretor de impacto da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Antônio Henrique Cavalcanti, assegurou que o projeto foi encaminhado à Secretaria das Cidades de Pernambuco, com diretrizes. “Ele precisaria de desapropriações”, limitou-se a dizer. Já a gerente de ciclomobilidade da Secretaria de Turismo (que assumiu os programas referentes ao tema), Rosaly Almeida, disse que o projeto não voltou da CTTU.
A proposta inicial do Estado seria a implantação de 8,1 quilômetros de ciclofaixas unidirecionais nas pistas da direita, demarcadas por pintura e tachões, com trechos em curva e subindo às calçadas. Os cicloativistas rejeitaram a ideia de reduzir o espaço do pedestre e fizeram sugestões de mudanças. Ele teria sido refeito, mas “se perdeu” desde então. Sem espaço, muitos ciclistas (20% dos que passam pela via) usam o corredor de BRT.
Lançado em fevereiro de 2014, o PDC prevê 590 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas até 2024. “Das 43 rotas do governo (130 quilômetros), nada foi realizado” informou Guilherme. “O Recife sequer tem utilizado o orçamento para ciclovias. Em 2013, previu R$ 46 mil e só gastou R$ 18 mil. Em 2014, de R$ 559 mil só investiu R$ 298 mil. Não faltam recursos, mas prioridade”.
Sem perspectivas, ativistas avaliam a apresentação de um projeto de lei que reduza a velocidade das vias urbanas para 40 quilômetros por hora, exceto as que tiverem espaço definido para as bicicletas. “Só 27% da população usam carro, 33% são pedestres e o Recife mantém uma política desigual e injusta de priorizar os automóveis. Precisamos mudar o conceito de mobilidade”, defendeu Leonardo Cisneiros, do Grupo Direitos Urbanos.
O diretor-geral do Detran, Sebastião Marinho, revelou que, em julho, com a inserção da figura do ciclista na prova de pátio, houve um índice de 7,8% de reprovação dos candidatos por não respeitarem a distância mínima de 1,5 metro do ciclista. “Esse percentual caiu para 4,8% neste mês”, salientou. Fernando Holanda, do Observatório do Recife, pediu a divulgação das ações do PDC. Evelyne Labanca, analista do Sebrae, mostrou que a concentração de veículos está gerando muito calor em pontos específicos.
A CTTU prometeu três ciclovias para este ano (Inácio Monteiro, Antônio Curado e Jardim São Paulo) e disse que o PDC está sendo executado. Já Rosaly Almeida reconheceu que o Estado “não fez o dever de casa”, mas avançou. “A ciclovia da PE-15 depende do município de Olinda e há outros projetos em análise, mas faltam recursos”.