Da esquina com a Rua Dom Bosco ao cruzamento com a Rua da Aurora, ambas no bairro da Boa Vista, a Avenida Conde da Boa Vista tem exatos 1,7 quilômetro de extensão e o status de uma das principais vias da área central do Recife. Uma importância ainda à procura de reconhecimento por parte do poder público: o corredor é hoje um amontoado de problemas que vão da falta de controle urbano à má conservação de calçadas e paradas de ônibus, passando pelas obras inacabadas do Corredor Leste-Oeste de transporte coletivo e até mesmo pela imprudência dos pedestres, que teimam em atravessar a via em locais proibidos.
Uma das primeiras coisas que saltam aos olhos na Avenida são as carcaças das seis estações de BRT (ônibus de trânsito rápido) que deveriam estar funcionando desde antes da Copa do Mundo de 2014. Repletas de lixo e restos de comida, viraram abrigo para moradores de rua. O mau cheiro no local – fruto das necessidades fisiológicas das pessoas que vivem ali – é difícil de ser suportado por muito tempo.
As seis estações da Conde da Boa Vista têm padrão diferente daquelas adotadas no restante do sistema BRT. São mais curtas e não irão dispor de ar-condicionado. Foram orçadas em R$ 1,9 milhão e não têm data para serem concluídas.
Os 325 mil passageiros usuários das 82 linhas de ônibus que servem a avenida diariamente também não têm motivos para comemorar. Além de não protegerem devidamente contra sol e chuva, as estações ainda representam perigo para os transeuntes. Há ferrugem espalhada pelas estruturas e, em alguns casos, existe o risco da queda de peças do teto dos abrigos. “Sem contar a falta de informações para as pessoas. Nós, comerciantes, fazemos as vezes de funcionários do Grande Recife Consórcio e dos letreiros que deveriam existir nas paradas, explicando quais as linhas que passam por aqui”, comenta o vendedor Márcio Antônio da Silva. “Geralmente eu informo, mas tem dias que você fica chateado de tanto dizer a mesma coisa”.
A última – e polêmica – grande intervenção na Conde da Boa Vista foi realizada em 2008, durante a gestão do então prefeito João da Costa (PT). Resultou em faixas exclusivas para ônibus, diminuiu o espaço para carros de passeio e implantou um gradil central, que em vários pontos foi depredado pela população. O motivo: atravessar a via sem ser pelas faixas de pedestre. O contínuo Mauri Moreira é um dos que se arriscam em meio ao tráfego pesado de coletivos. “É mais fácil passar por aqui do que andar até uma faixa. Eu já me acostumei”. A Conde da Boa Vista também é uma aula de antiestética: os pichadores não perdoam edifícios, pontos comerciais e até as placas que deveriam orientar a população. O estado das calçadas é até bom na primeira parte da via, entre a Ruas Dom Bosco e José de Alencar. Dali para frente, começa o festival de buracos.
Mesmo notórios avanços conquistados pelo poder público, como a retirada dos camelôs da via, correm o risco de serem perdidos. Muitos ambulantes já se concentram na esquina da Conde da Boa Vista com a Rua Gervásio Pires, um dos pontos de maior fluxo de pessoas na via. Na última quinta-feira, quando a matéria foi apurada, uma equipe de sete veículos da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da prefeitura foi vista circulando pela Avenida, mas nenhum ambulante foi abordado.