Imagine se uma pesquisa que aponta uma possível cura para uma doença grave nunca fosse compartilhada com a população e a comunidade científica? A discussão sobre um novo tratamento eficiente dificilmente avançaria. Diante do cenário de crise econômica, a chance de muitos projetos esbarrarem em problemas simples de serem resolvidos, como a falta de divulgação, é enorme. Pensando nisso, estudantes e professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) adotaram sistema de financiamento coletivo (crowdfunding) para arrecadar R$ 50 mil. O objetivo é publicar artigos no próximo ano referentes à conservação da natureza e ao desenvolvimento de novos remédios.
O dinheiro será destinado ao Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica da universidade. O centro, criado em 2012, é referência internacional em estudos sobre a biodiversidade no Nordeste e já publicou mais de 200 artigos ao longo de sua existência. No próximo ano, 16 estão na fila para serem divulgados, mas o receio é de que a falta de recursos seja um obstáculo. “O ano já está acabando e o edital mais importante para publicação, o universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ainda não saiu. Se uma pesquisa não é publicada, todo o investimento é perdido, porque a população não vai poder se apropriar do conhecimento”, afirma o professor de biologia e coordenador do laboratório, Ulysses Paulino de Albuquerque.
Entre os projetos da equipe formada por 30 pesquisadores, em parceria com laboratórios de várias regiões do Brasil e de outros países (Equador, México, Argentina e Estados Unidos), está o desenvolvido na Chapada do Araripe, localizada entre os Estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Há quatro anos, várias atividades vêm sendo realizadas com as comunidades locais para promover troca de conhecimentos sobre ervas medicinais, a fauna e flora locais. “Estudamos a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e as propriedades químicas de frutas e plantas com o objetivo de criar novos medicamentos. O umbu é um dos alvos de análise. Os estudos abrangem o lado social também. Por exemplo, na Chapada do Araripe, conhecemos a forma como a população se relacionava com a natureza. No fim, fizemos uma cartilha sobre ervas medicinais e um livro”, relata Ulysses.
O custo de publicação de artigo em uma revista de acesso aberto (em que os próprios pesquisadores pagam para que o público tenha acesso gratuito) gira em torno de R$ 6 mil. Os interessados podem fazer doações pelo sistema de financiamento via internet (crowdfunding), acessando o site www.kickante.com.br/campanhas/producao-de-conhecimento-cientifico. Qualquer quantia a partir de R$ 10 pode ser doada, via cartão de crédito. Há valores pré-definidos associados a prêmios. Por exemplo, quem contribuir com R$ 50, ganha um livro. Já quem investir R$ 1.300, receberá aulas de oratória científica para grupos de até 15 pessoas, desde que seja no Recife.