A violência do último domingo, quando sete pessoas foram feridas a facadas e pedradas em um ônibus do sistema complementar, no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, repercutiu pela crueldade, mas pode não ser um caso isolado. A falta de notificação das ocorrências de violência nos veículos, por parte dos permissionários, dificulta até mesmo possíveis ações para prevenir os crimes. Na Região Metropolitana, os assaltos a coletivos aumentaram 51,7%, na comparação de janeiro deste ano com o mesmo período de 2015.
Nos coletivos do sistema complementar, não faltam histórias de assaltos. “Já tentaram roubar meu celular e também já vi levarem o de uma passageira. Acontece a toda hora”, diz a balconista Edilene Albuquerque, usuária da linha Cassiterita/Jaqueira. “A maioria rouba com faca. Eles nem tiram da cintura. Mostram e pedem dinheiro e celular”, relata o aposentado Paulo Alves, que também usa a mesma linha. Mas ninguém questiona a qualidade do serviço. “É rápido e chega nos lugares onde os ônibus grandes não podem entrar. Se tivesse um pouco mais desegurança, seria perfeito”, diz Edilene.
Segundo a advogada do Sindicato dos Permissionários do Transporte Complementar de Pernambuco (Sinpetracope), Luciana Pepe, a maioria dos 160 permissionários do sistema não registra queixas de assaltos e casos de violência. “Talvez por um misto de desconhecimento do assunto e descrença na resolução dos crimes, pois geralmente são pequenos roubos. Mas nós estamos sempre orientando para que eles façam isso, até para podermos cobrar das autoridades um esquema de policiamento”. Formalmente, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) também recomenda que os proprietários comuniquem casos de violência, como assaltos. A regra é para sejam obrigatoriamente registradas as ocorrências em que há danos ao veículo, como a do último domingo.
[INTERTITULO2]IDENTIFICADOS
[/INTERTITULO2]A Polícia já identificou três dos cinco suspeitos de terem participado da agressão aos passageiros da linha 104 na noite do domingo. Segundo o delegado da Macaxeira, Sérgio Nunes, o homem que teria desferido as facadas tem 23 anos, é morador da região e já respondeu por homicídio e porte de arma.
Nas imagens, conseguidas com exclusividade ontem pelo JC, é possível ver quatro homens e uma adolescente tentando parar o coletivo. A câmera localizada próxima à cadeira do cobrador mostra os momentos de pânico dos passageiros na hora do ataque. Outra câmera, que fica na parte dianteira do veículo, registra o momento em que os feridos são socorridos à UPA de Nova Descoberta. Um terceiro equipamento, localizado na traseira e que poderia mostrar o momento da agressão, estava quebrado.
O auxiliar de produção que foi ferido com uma facada no pescoço (o JC está preservando os nomes de todos os envolvidos no caso) está fora de risco e conversou com a reportagem, por telefone, na tarde de ontem. “Eu desmaiei com uma pedrada e, quando acordei, estava nos braços do meu primo e vi que tinha levado a facada. Mas agora, graças a Deus, está tudo bem”.